"Difícil sair do cinema sem se perguntar por qual mistério somos condescendentes com nossas impulsões e, ao mesmo tempo, inertes quando se trata de mudar de vida. O desejo só consegue se expressar por sobressaltos. É como se contra o nosso desejo, tivéssemos erigido um dique inútil: a água irrompe forte, pelas pequenas falhas, mas sua massa não se transforma em energia para inventar a vida.
Em matéria de desejo, somos todos criancinhas, incapazes de encontrar a coragem de fazer o que desejamos, mas sempre (e apenas) tentados por potes de geléia." Contardo Calligaris
Assisto ao filme "Pecados Íntimos", daqueles bons e ácidos que fazem arder feridas. Hoje li as observações do Contardo Calligaris em seu texto da Folha e achei bem interessante o que ele considerou o tema do filme: a nossa incapacidade de mudar.
Me lembrei então de uma palestra sobre "O círculo do amor imaturo" que assisti essa semana. Segundo a palestrante, nossa primeira frustração acontece quando bebês, onde percebemos que não teremos toda a atenção que queremos e que o amor exclusivo não é possível. Trazemos conosco as marcas dessas frustrações e nos tornamos adultos que continuam buscando a completude nas coisas externas. Até aí tudo bem, se isso fosse consciente e elaborado, mas não é. Então fugimos desse medo da frustração de várias e várias formas. Seja guardando pra gente todo sentimento de raiva e ressentimento que acumulamos com o tempo, seja manifestando de maneiras extremas.
Liguei uma coisa a outra porque me parece que uma forma de "fugir" das reais questões da vida é seguir atendendo apenas aos desejos imediatos que cultivamos num hedonismo barato, sejam eles sexuais, de consumo, etc. Esse tipo de desejo não nos leva nem levará a uma mudança e transformação com sentido e nós bem sabemos disso, mas seguimos justificando nossa "liberdade" e "felicidade" em desejos atendidos, ignorando que dentro deles a semente do sofrimento brota ao mesmo tempo num círculo de insatisfação constante. É o que o Budismo chama de duka, uma palavra sem correspondência no Ocidente que significa alegria e sofrimento inseparáveis. É tudo que surge e nos faz sentir bem e queremos manter, mas com a ação da impermanência o mesmo fato que nos alegrava nos faz sentir mal e sofremos. Então assumimos uma postura controladora a fim de evitar o sofrimento e oscilamos o tempo todo.
Somos tão independentes, supostamente "resolvidos" e "adultos" mas quando nos deparamos com pequenas situações que exijam grande mudança de consciência e atitude com um preço correspondente a ser pago, simplesmente voltamos a engatinhar e pedir a chupeta. (O título original do filme é Little Children).
Veja pelos exemplos do filme: A mãe do pedófilo espera que ele mude e mesmo assim tem bibelôs de criancinhas pela casa toda. A mulher que não quer perder o marido mas coloca o filho pra dormir junto na hora da intimidade e o trata como mãe, decidindo até o melhor momento de lhe dar um celular. A outra morre de tédio e transa com o marido todo dia as 19:30, mas fica de olho no bonitão do parquinho. O bonitão cansou de ser babá do filho mas na hora de estudar para o exame da Ordem, passa noites a toa. E por último o grande executivo que se tranca no escritório para se masturbar enquanto vê pornografia na internet...
Mas se ampliarmos um pouco nossa visão e incluirmos um pouco mais que apenas nossos umbigos, percebemos imediatamente como nossa vida muda. Não por um altruísmo infantil, mas por uma real percepção de que quanto mais tomamos as rédeas de nossas questões e fazemos as lições de casa, mais inteiros e dispostos nos tornamos para a vida. E quanto mais inteiros e dispostos estamos para a vida mais nos abrimos para ela exatamente como ela se apresenta. E nos abrindo a realidade somos mais capazes de ver a beleza e a mágica de toda mudança, sem nos amargurarmos e nos ressentirmos. Naturalmente nos tornamos mais curiosos sobre a amplitude da vida e das pessoas e então relaxamos e nos sentimos a vontade no mundo. E sem grandes esforços nossos desejos mais profundos se realizam em grande escala, de uma forma que muitos estejam incluidos.
Não precisamos reprimir o desejo, nem deixar de desejar mas ter mais atenção com a qualidade dos nossos desejos, como bem diz Mark Epstein:
"O desejo é um veículo para a transformação pessoal, precisamos aprender como usar o desejo ao invés de ser usado por ele. O problema não é o desejo, é que os seus desejos são muito pequenos."
Outros filmes pra refletir: Tentação, Mentiras Sinceras e Closer.
Em matéria de desejo, somos todos criancinhas, incapazes de encontrar a coragem de fazer o que desejamos, mas sempre (e apenas) tentados por potes de geléia." Contardo Calligaris
Assisto ao filme "Pecados Íntimos", daqueles bons e ácidos que fazem arder feridas. Hoje li as observações do Contardo Calligaris em seu texto da Folha e achei bem interessante o que ele considerou o tema do filme: a nossa incapacidade de mudar.
Me lembrei então de uma palestra sobre "O círculo do amor imaturo" que assisti essa semana. Segundo a palestrante, nossa primeira frustração acontece quando bebês, onde percebemos que não teremos toda a atenção que queremos e que o amor exclusivo não é possível. Trazemos conosco as marcas dessas frustrações e nos tornamos adultos que continuam buscando a completude nas coisas externas. Até aí tudo bem, se isso fosse consciente e elaborado, mas não é. Então fugimos desse medo da frustração de várias e várias formas. Seja guardando pra gente todo sentimento de raiva e ressentimento que acumulamos com o tempo, seja manifestando de maneiras extremas.
Liguei uma coisa a outra porque me parece que uma forma de "fugir" das reais questões da vida é seguir atendendo apenas aos desejos imediatos que cultivamos num hedonismo barato, sejam eles sexuais, de consumo, etc. Esse tipo de desejo não nos leva nem levará a uma mudança e transformação com sentido e nós bem sabemos disso, mas seguimos justificando nossa "liberdade" e "felicidade" em desejos atendidos, ignorando que dentro deles a semente do sofrimento brota ao mesmo tempo num círculo de insatisfação constante. É o que o Budismo chama de duka, uma palavra sem correspondência no Ocidente que significa alegria e sofrimento inseparáveis. É tudo que surge e nos faz sentir bem e queremos manter, mas com a ação da impermanência o mesmo fato que nos alegrava nos faz sentir mal e sofremos. Então assumimos uma postura controladora a fim de evitar o sofrimento e oscilamos o tempo todo.
Somos tão independentes, supostamente "resolvidos" e "adultos" mas quando nos deparamos com pequenas situações que exijam grande mudança de consciência e atitude com um preço correspondente a ser pago, simplesmente voltamos a engatinhar e pedir a chupeta. (O título original do filme é Little Children).
Veja pelos exemplos do filme: A mãe do pedófilo espera que ele mude e mesmo assim tem bibelôs de criancinhas pela casa toda. A mulher que não quer perder o marido mas coloca o filho pra dormir junto na hora da intimidade e o trata como mãe, decidindo até o melhor momento de lhe dar um celular. A outra morre de tédio e transa com o marido todo dia as 19:30, mas fica de olho no bonitão do parquinho. O bonitão cansou de ser babá do filho mas na hora de estudar para o exame da Ordem, passa noites a toa. E por último o grande executivo que se tranca no escritório para se masturbar enquanto vê pornografia na internet...
Mas se ampliarmos um pouco nossa visão e incluirmos um pouco mais que apenas nossos umbigos, percebemos imediatamente como nossa vida muda. Não por um altruísmo infantil, mas por uma real percepção de que quanto mais tomamos as rédeas de nossas questões e fazemos as lições de casa, mais inteiros e dispostos nos tornamos para a vida. E quanto mais inteiros e dispostos estamos para a vida mais nos abrimos para ela exatamente como ela se apresenta. E nos abrindo a realidade somos mais capazes de ver a beleza e a mágica de toda mudança, sem nos amargurarmos e nos ressentirmos. Naturalmente nos tornamos mais curiosos sobre a amplitude da vida e das pessoas e então relaxamos e nos sentimos a vontade no mundo. E sem grandes esforços nossos desejos mais profundos se realizam em grande escala, de uma forma que muitos estejam incluidos.
Não precisamos reprimir o desejo, nem deixar de desejar mas ter mais atenção com a qualidade dos nossos desejos, como bem diz Mark Epstein:
"O desejo é um veículo para a transformação pessoal, precisamos aprender como usar o desejo ao invés de ser usado por ele. O problema não é o desejo, é que os seus desejos são muito pequenos."
Outros filmes pra refletir: Tentação, Mentiras Sinceras e Closer.
Um comentário:
Vários filmes assim sendo lançados ultimamente, não?
Tentação é excelente, né?
Amo a Naomi Watts. Casaria fácil com ela. ;-)
Abração
Gu
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