domingo, 24 de fevereiro de 2008

A vida no paraíso




"Ouvir é o princípio de tudo.
Imagine que toda essa música está aqui de verdade
Em todos os cantos, vibrando, pronta para ser absorvida.
Só é preciso ouvir, estar pronto para absorvê-la."


Lindo filme sueco, dirigido por Kay Pollak.
Um maestro internacionalmente famoso interrompe sua carreira e volta para sua pequena cidade natal, ao norte da Suécia. Aí começa uma história que com certeza já vimos em outros filmes, alguém novo na cidade que desperta transformação nos outros e é também transformado através dessas relações. Com isso, todas as boas e más consequências que as quebras de padrões acabam por causar.
Mais um lindo exemplo do que é dar nascimento quando sabemos olhar além das barreiras da superfície. Quando nos conectamos uns com os outros a magia é possível, caminhamos para um outro nível de visão e os julgamentos se dissolvem como poeira no ar.
Assisti-lo me trouxe uma energia muito boa, aquele pequenino despertar de sonhos que ficam adormecidos. "Meu sonho é fazer uma música que abra o coração das pessoas." Isso é o que diz Daniel, o que o move mesmo sem saber como amar. Um homem fechado sedento por transformação. Imagino quantas pessoas estão assim e que precisam de apenas um olhar, um ouvido, ou um toque para nascer. Eu mesma fui e continuo sendo uma delas. Como alguém me escreveu uma vez "um cactus é interessante pois sua capacidade de reter água é sua potencialidade para matar a sede." A capacidade de Daniel de reter amor é a sua potencialidade de gerá-lo.

São muitas falas e cenas significativas, a cada abertura, a cada brilho que nascia eu me emocionava. Esse filme veio em tão perfeita hora, na hora em que eu busco meu próprio tom. Meu tom individual. No começo do filme, o coral que Daniel começa a reger na cidadezinha tem um tom só, um rebanho homogêneo, vivendo uma vida totalmente linear. Mas ao primeiro olhar que Daniel dá a essas pessoas, e na mesma medida recebe, todos começam a se abrir como se estivessem esperando por isso há tempos.
Ele diz, "Ache sua voz vibrando dentro de você, ela não está em nenhum outro lugar." Isso é o que tenho buscado e como a Lena, de vez em quando aperto meus olhos e posso enxergar asas nas pessoas. O que me motiva é um paraíso, um nirvana, um instante santo, ou qualquer coisa simples que dê sentido a um segundo. Ou a qualquer "58 segundos", como diz no filme.

Cansei de buscar perfeição e feitos homéricos. Quando acordo, um instante basta. Quando trabalho, uma inspiração basta. Com os amigos, uma boa companhia basta. Com um homem, um olhar basta. Numa casa nova, uma varanda basta.
Hoje bastou esse filme. Ele me lembrou das minhas aspirações mais profundas, as motivações mais genuínas. Eu quero com meu trabalho abrir o coração das pessoas.

E no fim das contas, todas as experiências são como aprender a andar de bicicleta.

" Fly with me and take the skies
Close your eyes and feel the way
You and I will live to see
When we reach the sky you'll find..."


P.S: Dedico ao Edu. Por desejar profundamente e com muita compaixão que ele encontre da forma mais bela possível seu tom individual.
Dedico a Mila, pela amizade disponível rs.
Dedico a Isabelle pela sensibilidade.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Lições de flerte parte 1

Tenho assistido inúmeros filmes de vários estilos e gêneros. De filme em filme hoje me veio um insight: as comédias românticas são, no mínimo ótimas lições de flerte. Ok, muitas vezes parecidas, lugar comum, mas por admirar as ótimas saídas pras conquistas, acho que de alguma forma pode ser uma boa inspiração para homens e mulheres. Não que devamos copiar essas personagens, mas não custa nada se inspirar um pouquinho em algo mais original, cool, espontâneo e até puro (no sentido de motivação) que esses personagens têm.
A proposta desse post é algo leve, sugestão pros muitos desencontros onde a sinfonia começa até com boa melodia mas termina desafinada (e muitas vezes frustrante).
Após muitos relatos e indignação que tenho ouvido, uma amiga deu uma definição interessante pro que pode acontecer com as relações: a síndrome do fim do mundo. "Parece que o mundo vai acabar e as pessoas não querem perder tempo algum. Se aqui não rola o que eu quero, tchau vou procurar em outro canto. Os homens e as mulheres estão desesperados por uma definição e ficam completamente imediatistas. Só param por um tempo qdo encontram exatamente aquilo que queriam." Detalhe que encontrar exatamente o que querem a maioria das vezes é de forma utilitária, como qualquer outro objeto de consumo. Tem-se claros os requisitos pré conceituados e daí a pouca tolerância, por procurar preencher uma lacuna e não se relacionar humanamente com tudo que isso inclui.
A motivação com que se flerta é o que vai dar a linha dali pra frente, então é bom contemplar o que realmente se quer antes de sair impulsivo sem direção pra saciar desejos autocentrados. Dessa forma ninguém tem nada a ganhar a não ser um "mais do mesmo" vazio.

Pra manter a linha e principalmente o bom humor, alguns personagens masculinos de atitude e presença que nos inspiram a viver de forma espontânea, lúdica e aberta as relações amorosas. Os exemplos são apenas masculinos pois além de ser minha preferência são eles que nos conduzem, exatamente como acontece numa dança ;-)


"Sem reservas"- A chef de cozinha durona se apaixona por um cozinheiro da sua equipe. Ele é bonito, gostoso, charmoso, interessante, mas principalmente livre e extremamente habilidoso. Livre no sentido de não se intimidar com as resistências dela e continuar na motivação e habilidoso para driblá-las de forma suave que ela mesma não tenha mais controle. A melhor cena é quando ele não a beija, a deixa no vácuo e depois vai saciando em doses homeopáticas. Estilo delicioso justamente por não ser motivado por joguinho de competição.

"Nunca é tarde para amar" Uma produtora de TV de 40 anos se apaixona pelo ator de 29. Esse filme é uma delícia! O bom humor dos dois como casal, as sacadas, a espontaneidade é muito gostoso de ver. A leveza dele é o principal ingrediente diante da confusão dela e a autenticidade de não se intimidar em ser espontâneo. Adoro a cena em que ele dança sozinho na pista todo atrapalhado e quando eles ficam sozinhos na casa dela e a sedução vai pro pastelão total.

"De repente 30" A linda e bem sucedida editora de uma revista famosa se apaixona pelo amigo que menosprezava na infância. Bom, nesse caso falamos nada mais nada menos que Mark Ruffalo que merecia um post só dele, porque o cara tem o dom de ter interpretado excelentes personagens, que juntos dariam o homem "perfeito". Não há como não notar seu encanto low profile, lindo, inteligente, cool e tem presença.
No filme ele vai ocupando os espaços que vão surgindo de uma forma muito tranquila, sem competir com ela, sem fazer joguinho por ter sido rejeitado antes. Ele vai se abrindo e deixando rolar (mesmo estando prestes a casar...) o que a faz observar e ter vontade de se aproximar cada vez mais. Eles dançando Thriller é ótimo mas a cena que eu mais gosto é dos dois no parque mascando chiclete e lembrando da infância, cumplicidade lúdica e de uma "inocência" muito gostosa.

"Um bom ano" Engraçado ver o Russel Crowe "Gladiator" numa comédia romântica, mas ele não fez feio, o cara tem seu charme e ponto. História de um estressado, materialista e frio executivo do mercado finaceiro que se envolve, de maneira bem inusitada, com a traumatizada dona de um restaurante na Toscana. Ok, o cenário ajuda muuuito, mas a cena em que ele trabalha de garçom por um dia e como vai conquistando a moça é muito hábil, entrando no mundo dela de leve e com humor ele consegue cada vez mais abertura.
Adorei a seguinte fala :" Forgive my lips, they find joy in the most unusual places." (Perdoe meus lábios, eles acham alegria nos lugares mais inusitados)

Os filmes são repletos de fantasia e fantasias podem servir de inspiração para um bom começo, não é? ;-)

domingo, 17 de fevereiro de 2008

A xamanic tale


Lápis nos olhos
Rosto pintado
Tinta no corpo
Costas desnudas

Dançou, dançou, dançou...
Nem imaginava que seu corpo poderia se mexer daquele jeito
Se não fosse o reflexo, ela não saberia que essa energia poderia se mover assim
Sentiu seu corpo como uma serpente. Ela também podia se mover como uma serpente!
Como fez bem! Se sentiu sexy, femininamente sexy!
Os olhos que a olhavam não eram de fome, eram de apetite
E gostou de ser olhada assim
Despudor inocente

Não se importou com nada, era incrível ser ela mesma! Não havia ninguém ao redor, só ela, a lua e uma fogueira.
Na madrugada, pés descalços. Sem pintura, sem roupa, nada.
No escuro da floresta, ele a esperava.

Quando ela descobrir seu rosto, eles vão se encontrar novamente...

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Não dê esmola, dê um olhar


Hoje parei pra observar. Eu não costumo dar esmolas. Farol fechou, uns cinco meninos sairam de não sei onde com suas bolinhas no ar.
Ao redor, um falava ao celular, outro entediado olhava pro lado, uma ilha de indiferença. No final das contas, talvez para aliviar a consciência, uma esmolinha.
Eu me diverti com o menino, entrei na dança das bolas, ri com ele. Imaginava o potencial que havia ali, e como aquilo acabava por ser mecânico, como um brinquedo que vc dá corda, de novo, de novo e de novo.
No final, nenhuma moeda. Passei os olhos nos seus pezinhos descalços e me deu uma inveja danada.
Ele abriu um sorrisão e me deu tchau.

Simples assim. Feliz assim.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

What a day!


"No meio de uma depressão
Te ver e ter beleza e fantasia"

Passar a tarde falando de gente, contando de mim, ouvindo de ti. Experimentando comida judaica, compartilhando segredos e impressões, injeções de alegria. Nem percebi que já se passaram 6 horas. Imaginei o privilégio que eu tive hoje, enqto a maioria das pessoa estava dentro de um escritório eu tava de moletom, camiseta e rabo de cavalo, brincando. Sim porque é isso que acontece qdo encontro os amigos de alma. Que delícia ter amigos!
Não tem outra palavra, porque é saboroso conversar olhando no olho, rindo de barriga, sem frescuras, dissimulações. Coisa boa ouvir histórias humanas como as de alguém que deixou a manteiga e a geléia prontas pra vc passar no pão numa viagem, pq sabe o qto te irrita, ou aquele dia que seu amigo te deu um pêssego porque achava que vc tava com fome.
Me deu vontade de fazer a lista que a gente enumerou hoje das pequenas coisas deliciosas da vida:
Ver um filme sozinho e chorar de rir
Conversar com as plantas ou bicho de estimação
Fazer travessuras em lugares públicos
Rir pra si da loucura dos outros
Se divertir com suas próprias loucuras
Interpretar músicas e imitar personagens
Colocar o som bem alto e dançar até suar
Se sujar de terra, jogar água nos outros
Competição de caretas
Tomar sorvete se lambuzando

E a noite chega, mais um privilégio de presente. Recebo um olhar extremamente acolhedor de uma compaixão que só uma pessoa que tem muito amor dentro de si pode dar. Depois aquele abraço gigante que vem aconchegar toda tristeza. Uma paciência sem tamanho dissecando as questões, querendo ajudar a fechar as lacunas, parceiro no quebra- cabeças. Foi muito emocionante, acho que partilhamos de verdade, real comunhão. Na leveza, na pureza, no espírito.
Uau, que dia abençoado!

Saboereim seus amigos, saboreiem esses momentos em que se pode ser você com os verdadeiros amigos. De pijama, sem maquiagem, as vezes inchada de tanto chorar, outras ridícula de tanto rir. Cara, sou muito agradecida por ter vcs por perto, muito.

Meu profundo carinho

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Reflexão: uma das melhores falas do cinema

Em meio a um monte de questões, indagações, indignações assisto mais uma vez "Gênio Indomável". Eu insisto que os filmes escolhem a gente. Essa fala do Robin Willians caiu como uma luva pros meus questionamentos. E me deu a resposta que tinha começado dois dias atrás: o brilho que falta é as pessoas se mostrarem. Não como num Big Brother, numa boate, num jogo de conquista.
Elas se mostrarem como humanas, sua beleza e cicatrizes, luz e sombra.

"Você é apenas um garoto. Não sabe do que está falando.
Você nunca saiu de Boston.
Se perguntar sobre arte, me dirá tudo escrito sobre o tema. Michelangelo... Vc sabe muito sobre ele: sua obra, suas aspirações polítcas, ele e o papa, tendências sexuais, tudo. Mas não pode falar do cheiro da Capela Sistina. Nunca esteve lá, nem olhou aquele teto lindo. Nunca o viu.
Se perguntar sobre mulheres, me dará uma lista das favoritas. Já deve ter transado algumas vezes... mas não sabe o que é acordar ao lado de uma mulher e se sentir realmente feliz.
Se perguntar sobre a guerra, vai me citar Shapkespeare, mas não conhece a guerra. Nunca teve a cabeça do seu melhor amigo no colo e viu seu último suspiro, pedindo ajuda.
Se perguntar sobre o amor, citará um soneto mas nunca olhou uma mulher e se sentiu vulnerável. Alguém que te entendesse com um olhar como se Deus tivesse posto um anjo na Terra só pra você... para salvá-lo do inferno. E sem saber como ser o anjo dela, como amá-la e apoiá-la pra sempre, em tudo... Não sabe o que é dormir num hospital por dois meses pq só o horário de visitas não é o bastante.
Não sabe nada de perda. Porque ela só ocorre quando ama algo mais que a si próprio. Duvido que já tenha amado alguém assim.
Olho pra vc e não vejo um homem inteligente e confiante. Só um garoto convencido e assustado.
Mas você é um gênio, é inegável. Ninguém conseguiria entender essa complexidade.
Mas acha que me conhece por um quadro e disseca minha vida.
Você é órfão, não é? Acha que sei como sofreu, como se sente, quem você é porque li "Oliver Twist"? Você se resume a isso?
Pessoalmente estou cagando pra isso, porque tudo que me diz eu poderia ler em livros.

A menos que me conte sobre você, quem você é. Isso me fascinaria, isso sim.
Mas você não quer fazer isso não é? Morre de medo do que eu poderia dizer."

Muito se fala sobre a entrega, o quanto é importante para um relacionamento verdadeiro. Mas como fazê-lo sem conhecer a si mesmo? Como fazê-lo sem querer chegar no outro? Sem se mostrar, como acolher? Como ser acolhida, sem ser vista?
Vendo o humano em alguém o divino fica muito nítido pra mim.

Me sinto com 100 anos brincando de amarelinha.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Perguntas para o nada

O que acontece com o mundo?

As pessoas preferem flores e plantas de plástico as que têm vida, por dar menos trabalho.
Abandonam seus animais de estimação por simplesmente enjoarem ou por qq outro motivo fútil.
As crianças são exploradas, os estrangeiros são explorados. Muito do que consumimos é banhado a sofrimento e exploração.
A natureza é cada vez mais desrespeitada.
Homens e mulheres cada vez mais superficiais, relações instantâneas e descartáveis. As pessoas se desencontram, se machucam, traem, mentem, se dopam.

Qual o valor real de um sentimento? Qual o sentido de lealdade? O que aconteceu com a autenticidade?

Eu me sinto vivendo numa ilha. Rodeada de cegos, surdos e mudos.
Queria atravessar fronteiras, falar e ver de perto. Minhas angústias são muitas, e as vezes me sinto ridícula por me preocupar com tanta coisa pequena perto da doença do mundo, e pela miha própria limitação.
Há muita coisa linda, sim há. Há jóias raras que aparecem no caminho. Há notícias felizes, há exemplos de vida.

Mas hoje, com uma pontinha de tristeza e a ingenuidade de uma criança de 5 anos pergunto: O que acontece com as pessoas?


P.S: Assisti Caçador de Pipas e independentemente de ser ou não ser ficção, o personagem Hassan foi um presente pra mim. Chorei muito com os valores e principalmente com a lealdade daquela criança. E para os poucos e bons que estão por perto eu dedico esse post e minhas lágrimas mais profundas de emoção.
Isso é uma das grandes coisas que fazem meu coração bater mais forte: ver o divino presente no humano. Raro, muito raro.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

"Entre e divirta-se!"


Descubro que a vida é muito parecida com um parque de diversões. Entrar num parque é ter a disposição inúmeras sensações. Você pode escolher as atrações mas, querendo ou não, entra na fantasia. Não há como não abrir brecha pra inocência, não no sentido de ingenuidade, mas de olhos novos, de abertura para as novas experiências. Afinal, não é isso que buscamos com o passaporte da alegria? E será que não é exatamente isso que nos deixa tão vulneráveis quando estamos lá?
Dentro de um parque de diversões é como se tívessemos a garantia de que tudo não passa de criação da nossa mente, seja o prazer ou o medo e mesmo assim não escapamos de ser fisgados por essas emoções como se fossem reais. Fica nítido que nada vai nos acontecer de ruim, mas porque tanto receio da montanha russa? Ao mesmo tempo, tudo o que mais queríamos era nos atirar daquela tirolesa de 50 metros!
Auto- conhecimento a cada ticket. Um labirinto onde vamos tateando, ora nos atiramos por completo, ora recuamos por alguma aflição ou medo. Os melhores brinquedos são os que não conhecemos, não sabemos nada sobre eles, pois quanto menor a expectativa, maior a surpresa. Os mais fascinantes são aqueles que nos deixam num escuro tão grande que não resta outra alternativa senão usar os sentidos. E aqueles que a gente não vai de jeito nenhum? Impossível não ter uma pontinha de inveja do amigo que se arriscou ou de ficar fascinado só de olhar o risco que seria pra si mesmo se atirar neles.

Pra quem está em busca de algumas respostas, recomendo uma bela tarde num parque de diversões, com muito algodão doce, maçã do amor e pipoca.

P.S: Qualquer semelhança com sua própria vida não é mera coincidência ;-)