segunda-feira, 29 de outubro de 2007

O assassinato de Jesse James pelo covarde Robert Ford



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"Look at my red hands and my mean face... and I wonder 'bout that man that's gone so wrong." Jesse James

Longa dirigido pelo neo­ze­lan­dês Andrew Dominik, conta a história de Jesse James, lenda do banditismo americano do século 18, e seu bando liderado por ele e seu irmão Frank (interpretado pelo genial Sam Shepard). A história percorre as tramas da dinâmica entre os membros do bando e, principalmente, a relação de Robert Ford (em ótima atuação de Casey Affleck)  com o "mito" de Jesse. Bob tenta desconstruir o ídolo com a ilusão de estar construindo a si mesmo durante a convivência com ele, numa ambiguidade de fiel escudeiro tímido/assassino calculista que confunde e  perturba. Logo de cara o filme impressiona por sua grandeza e poesia, um western onde a sutileza dá o tom, seja nas imagens, mensagens, enquadramentos ou na fotografia belíssima. Brad Pitt é um excelente ator e há determinados papéis que lhe caem como uma luva, Jesse James é um deles.

Jesse é acessível e essa "disponibilidade" não o fragiliza. Ele é divertido, até dócil, mas a transição para o cruel pode ser imediata. Aprofundando um pouco, algo que se destaca são os olhares: as trocas de olhares, o olho no olho, isso é muito claro nos filmes de faroeste e de lutas orientais. Aquele olhar presente, profundo, que reflete a "ética" e firmeza por trás da atitude, mesmo que transgressora e até violenta. Inclusive um olhar que Brad Pitt representa muito bem, (vide outros filmes como Legends of the Fall e Seven) um olhar de homem, no sentido mais profundo da palavra. Olhar de quem é o que é e por sua presença e força, possui uma intuição quase que felina para as nuances e transições em seu entorno.
Bob Ford vai se confundindo e se perdendo na imagem de Jesse, pois ao invés de se inspirar, ele começa simbioticamente a querer "ser" Jesse, e é previsível onde esse caminho vai terminar... Já para Jesse, está tudo bem em tê-lo por perto, inclusive com os sinais de perigo iminentes e é curiosa a relação com o medo que os personagens têm. Quanto mais fracos em seu íntimo, mais medrosos são a qualquer pequeno sinal (e mais segurança encontram num revólver).  Em contrapartida, Jesse permanece firme mesmo nos momentos ameaçadores, caminhando na estrada que escolheu,  cumprindo seu "destino",  arcando com todas as consequências. O simples ar de sua presença intimida e ele não faz esforços para que  isso aconteça, é sua forma de viver que gera essa sensação . Claro que ele dá provas de ser implacável, mas é algo que  transpõe esse externo: é sua qualidade de presença que sustenta sua força (e um revólver, definitivamente não é sua segurança).

 trailer

Enfim, uma obra cujo ritmo lento e contemplativo de sua narrativa merece ser saboreado, um filme sobre homens em um contexto rústico sob uma ótica quase onírica e muito sensível.
No mínimo, algo muito novo para um gênero clássico e até um tanto desgastado, como os westerns americanos.

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