Ele enfatizou a necessidade de não perder tempo, colocar em prática os ensinamentos, verificar por nós mesmos o que dá certo ou não. E claro, a importância da meditação para estabilizarmos cada vez mais nossa energia e dirigirmos a mente. Afinal, Lama, praticantes, bebês, idosos, estamos todos no mesmo barco!
Tomo a liberdade de reproduzir algumas reflexões e dividi-las com vocês:
- O caminho mahayana, dentro do Budismo é o caminho da prática no mundo. Para praticar no mundo precisamos de um eixo, algo como uma espinha dorsal que sustente essa prática, uma motivação elevada de beneficiar todos os seres.
- O karma é trabalhado nas relações, por isso elas são tão desafiadoras. Precisa de um terreno fértil para o karma germinar e isso não acontece sozinho. Nossos karmas são sempre coletivos, estamos uns trabalhando com os outros já que ele depende de causas para surgir. Os karmas estão onde não queremos mexer, eles surgem como algo "natural" a que estamos "acostumados".
- É importante na vida que tenhamos um referencial elevado para todas as situações. Como uma mãe com um bebê, ela não precisa saber porque ele está chorando, ela pega o bebê no colo, dá uma "ajeitadinha" e tudo se acomoda. Precisamos cultivar essa capacidade de acomodar as situações, dar uma ajeitadinha ao invés de nos prendermos tanto as causas. Isso é posssível com bebês, mas quando se tratam de adultos acabamos por nos contaminar.
Seria bom "operarmos pelas costas". Que nossas atitudes tenham uma base além do que aparentam, as pessoas não aprendem conosco pelo que falamos, mas pelo que fazemos.
- É bom estar atento aos olhos utilitários que lançamos, o mundo hoje tem muito esses olhos, olhos que querem arrancar uns dos outros o tempo todo. O mundo econômico ilustra bem isso, estão todos pensando no "caixa", mais do que em gerar benefício aos outros. Mas não percebem que se a ótica for de gerar benefício estarão tão atentos as necessidades que produzirão o que as pessoas realmente necessitam, ou até o que venham necessitar, além de obterem lucro estarão fazendo algo positivo que não seja apenas para si. (Nesse momento me ocorreu que a pesquisa de tendências budista é muito mais efetiva e interessante que essas
trends consultings rs)
- Hoje em dia notamos uma grande crise no valor das coisas, a fragmentação da confiança em determinados sistemas. O que é muito positivo para revermos o que realmente importa para andarmos no sentido de maior
responsabilidade universal. (Ele deu o exemplo de
Gaia Education).
Vivemos a crise de armazém, muitas empresas estocando produtos, alimentos, que crise é essa se existe tudo isso em abundância, se deteriorando em depósitos?
A simplificação da vida é a felicidade, a felicidade é a verdadeira subversão pois ela inclui olhar para o outro além de olhar pra si. Tudo que fazemos para nós mesmos não "vinga", se deteriora, podemos observar. O que fazemos também pelo outro germina, floresce.
Desejamos tantas coisas, nos apegamos tanto que não temos tempo! Se tempo fosse um produto com certeza muita gente consumiria! rs Imagine, quando usamos nosso tempo para coisas elevadas e não inúteis, sempre temos mais tempo.
- O propósito harmonizado com o Universo gera mandala positiva. Esse propósito sem harmonia gera paisagens. O propósito deve funcionar sem esforço, tendo uma boa motivação como base. Então direcionamos a energia para direcionar o corpo. Para direcionar a energia, precisamos direcionar a mente. A mente se relaciona as
paisagens, uma natureza livre está acima das paisagens.
- Sem motivação correta, caimos no materialismo espiritual e aí praticamos para gerar e sustentar novas identidades. Por exemplo, praticamos como semi deuses que comparam sua prática com as dos outros todo tempo, praticamos por carência ou como os deuses, que se orgulham de não precisar praticar. É o caso das "multinacionais espirituais"(adorei esse termo ), que esquecendo a verdadeira motivação implantam espiritualidade, ao invés de levar benefício e compaixão. A motivação correta é beneficiar todos os seres, essa não tem erro.
- Nossa sabedoria primordial nos faz relacionar com as coisas sutis e não com as grosseiras. Encontramos nossa natureza original e somos livres.
Os sintomas são
"artificialidades", tirando sua solidez, eles passam. Não há nada que não se possa transformar em lucidez. Mas a artificialidade usada para guiar para fora da artificialidade, é a artificialidade com
dharma.
- A parte inicial do caminho é onde estamos. Se nada é sólido dentro do
samsara, podemos resolver tudo na hora (liberdade imediata) sem precisarmos deixar passar tanto tempo agindo da mesma maneira negativa. É preciso não perder tempo, temos a disposição tudo o que precisamos, não deixemos passar. A sabedoria, a consciência é como um fruto maduro numa árvore, se não colhermos ele vai cair no chão.
- Estamos no poço da existência cíclica, entre o sofrimento e a liberação. As portas se abrem e se fecham o tempo todo. Então na hora das "crises", dos momentos difíceis, temos sempre a possibilidade de simplesmente abrir uma outra porta. Há sempre uma saída além de nós mesmos.
- Ao invés de deixar de olharmos para nossas vidas para que isso não doa e ficarmos olhando a vida dos outros como em "Big Brothers", vamos olhar as regiões escuras da nossa existência com o olho do dharma, o olho que purifica e transmuta.
Nossa vida é tão interessante! Nossa própria história é bem mais interessante, todos os dias temos tarefas a cumprir e os resultados surgem de acordo.
- Interessante como somos educados a ter um determinado estilo de vida que nos aprisiona de tal forma que faz com que "vivamos o fim de semana". Eu construo uma carreira, ganho dinheiro, adquiro coisas que desejo, que no fim das contas não vivo, além de alguns poucos dias na semana em que consigo "usufruir" alguma coisa rs.
Se devemos ter uma vida "simples" ou não no sentido concreto, não faz diferença. Posso usar um instrumento de 04 cordas ou um enorme piano, a diferença fundamental é a motivação com que uso aquilo. Por exemplo, S.S Dalai Lama não tem uma vida simples, ele tem muitos compromissos, muito a fazer. O importante é não perdermos tempo com coisas inúteis, pois não temos as coisas inúteis, elas que nos têm.
P.S: Dedico ao Lama Samten e a todas as pessoas que compartilharam esse momento auspicioso.