quinta-feira, 1 de maio de 2008

Cegueira


"Liberdade para os cegos não é um espaço aberto, é um espaço onde os dedos possam tocar as paredes, é confinamento, que significa proteção."
Filme "Ensaio sobre a Cegueira"

"Não acho que ficamos cegos, acho que somos cegos. Cegos que podem ver mas não vêem."
do livro Ensaio sobre a Cegueira

A Ilustrada de hoje tem uma excelente entrevista com o Fernando Meirelles sobre o filme "Ensaio sobre a Cegueira" baseado no livro de Saramago. Ontem teve palestra do Lama Padma Samten e ele falou muito sobre visão. Muito boa coincidência.
O Fernando fala na entrevista: "A barbárie está instalada e não vemos. (...) Cada vez mais vejo gente meio cega ao meu redor, do padre Adelir, que se lançou no ar preso a mil balões por não conseguir enxergar as reais condições que tinha ao redor as multidões de pessoas com fortes convicções ideológicas que se orgulham de nunca mudarem sua visão de mundo."

O Lama diz que a ignorância não é tanto falta de conhecimento ou ignorar algo e mais deixar de ver, ter o foco em algo e perder as outras possibilidades. Para ver é necessário que ultrapassemos a visão, por ser muito difícil conseguir isso sozinho, uma boa maneira é participar de várias visões que se complementem, para poder sair de um foco apenas e ampliar percepções. Entrar em mundos distintos sem ficar preso a eles e desta forma, ajudar outros seres. Quando olhamos a vida apenas através dos jogos que criamos, sofremos, e uma visão limitada é o que faz com que os acontecimentos sejam cíclicos.

A partir disso, reflito sobre minha vida. Ultimamente algumas repetições aconteceram como naquele ótimo filme "Feitiço do Tempo", acordar e parecer viver o mesmo dia e as mesmas frustrações. Quando um tabalho que eu esperava muito fechar e estava quase certo desandou, eu tive um pouco do sinal do que estava acontecendo. Parei tudo e observei a minha vida de um modo geral. Tive a sorte de receber um chacoalhão de alguém que mostrou o quanto minha visão estava limitada, argumentando com visões muito opostas as minhas. Fiquei com raiva, mas minutos depois relaxei e dei risada com ele "putz como eu sou idiota!" ( como disse o Lama ontem, olhar no espelho e ler "Você está vendo um bobo!"). Depois a frase preciosamente enfatizada: "Menina, vc precisa de injeção de realidade."
Passado o desconforto, consigo relaxar um pouco mais agora apenas me observando, tentando não ter expectativas lunáticas como o sonho de viajar suspensa por balões e nem me orgulhar tanto das minhas convicções. O que me despertou foi dar uma bela gargalhada da situação e enxergar meus reais recursos e condições.
Depois das crises, procura por respostas e buscas sem fim, talvez esteja mais perto de transformar algumas crenças e eventos que me levam a ciclos bem conhecidos. Primeiro, aceitando minha humanidade, minhas cretinices e inteligências, falhas e acertos, qualidades negativas e positivas. Abdicar dessa busca por estabilidade, controle e alcance imediato. Segundo, me sentindo mais a vontade nessa pele. Terceiro, rindo de mim mesma, pois muitas perguntas ficarão sem respostas e muita coisa eu nem chegarei a saber.

Ao final da palestra, o Lama disse algo que já apitava dentro de mim: tudo é fruto da motivação, a pergunta é "o que tenho feito da minha própria vida? Essa vida tem beneficiado outros seres?" E desta forma estar atento as ações e hábitos.
Esse é o atalho mais bonito e consistente que consegui enxergar: quando a gente realmente tira o foco de si mesmo, dos 90 graus em que fixamos atenção, consegue olhar os 180 graus que temos a disposição e confiar nos outros 180 de possibilidades que não podemos ver, a vida fica bem mais profunda e feliz.
Como bem alertou o amigo "Menina, você tem conhecimento demais aí dentro, agora use isso pra cumprir seus papéis na sociedade de forma que possa ajudar mais outras pessoas. Leve isso pra vida!"

A menina segue seu caminho no escuro...




Dedicado ao Lama Padma Samten

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