sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Sobre viagens e amores


Eu adoro os artigos do Contardo Calligaris e vez ou outra cito-os por aqui. Mas esse, em especial, veio em cheio. Recentemente, algumas pessoas começaram a me questionar: "Alê, você quer casar de novo? Ter filhos? O que você quer?" A princípio me senti como se estivesse prestando vestibular novamente, não entendia porque essas respostas tinham que estar prontas assim. Me sentia confusa, 'as vezes um E.T. porque isso não era uma grande questão pra mim... Resultado: eu só conseguia responder o seguinte "Não sei, não penso sobre isso agora. Só sei que quero muito viajar."
Quanto mais me incomodavam esses questionamentos repentinos, mais eles aconteciam e eu sempre respondia "Eu quero viajar". E se eles estavam se repetindo talvez fosse pra cutucar alguma coisa aqui dentro. E agora meus caros, com esse artigo do Contardo eu posso respondê-los e a mim mesma sobre o significado de viajar pra mim, e ao mesmo tempo, o significado do amor e das relações na minha vida.

"O amor e a viagem nos fazem descobrir que há algo, em nós, que não conhecíamos até então."

Ele cita "O Conto da Ilha Desconhecida", de Saramago, onde o protagonista explica seu desejo dessa forma: "Quero encontrar a ilha desconhecida. Quero saber quem eu sou quando nela estiver". Ele prossegue na fábula contando que no fim desse conto o protagonista não encontra a ilha mas uma mulher. E ele faz duas leituras interessantíssimas sobre esse desfecho:

1."Quem casa não viaja (a não ser de férias); casar-se é desistir de viajar. É o que pensam com frequência, homens e mulheres casados. E é também o que os leva, 'as vezes a se separarem. Quando achamos que o outro nos impede de viajar, ou seja, que ele nos priva da aventura de descobrir o que poderia haver de diferente em nós, o casal se torna nosso inimigo. Claro, na maioria dos casos acusamos o casal de uma inércia que é só nossa."

2. "O protagonista descobre que a mulher a seu lado é a própria ilha desconhecida que ele procurava e que a verdadeira viagem é o encontro com um outro amado. Faz todo sentido, pois o amor e a viagem a princípio, têm isto em comum: ambos nos fazem descobrir em nós algo que não estava lá antes. O outro amado nos transforma. Tanto quanto a chegada numa terra incógnita, ele nos revela algo inesperado em nós. Por isso, aliás, o viajante e o amante podem esbararrar em problemas análogos: 'as vezes por sermos transformados pela viagem ou pelo amor, não gostamos do que encontramos, não gostamos do efeito em nós do amor ou da viagem. Essa é, em geral, a única razão séria para se separar ou para voltar de viagem."

Entendo porque muita gente que conheço tem medo de viajar ou precisa de determinadas condições para fazê-lo, isso diz muito sobre como se relacionam. Precisam ter muito controle e para sair do conhecido, apenas com várias condições prévias (me incluí nisso diversas vezes), não querem encontrar o que pode não ser muito bom sobre si mesmos numa viagem ou na relação com o outro. Esse é o grande ponto que percebo no senso comum: querer o pacote (uma pessoa que os complete, um casamento, filhos e a felicidade eterna) e ter tudo milimetricamente controlado para que isso se concretize; porém são incapazes de viajar em si mesmos, a ponto de estarem tão plenos para saberem quem são quando isso acontecer.

Sobre mim, acabo de descobrir que meu fascínio por viagens é meu fascínio pelo amor. Como viagem pra mim não é significado de férias e amor de "pacote", quando me proponho a qualquer um dos dois é por estar sedenta de saber quem eu sou. O que de melhor e pior pode haver em mim, quando lá estiver. E que isso seja ao menos um bom refúgio pra quando a frustração acontecer, a ponto de eu não precisar voltar da viagem, mas prosseguir de outra forma nela.

Além disso, o consentimento da transformação do outro, da nossa e de uma relação é a maior forma de perdão e amor que encontro hoje.

E Contardo conclui brilhantemente:
"Os outros não são nenhum inferno, são uma viagem.
Agora para amar, como para viajar é preciso ter determinação e coragem."

Ah e respondendo definitivamente a essa questão eu quero viajar numa relação, ou uma relação que me permita a viagem. Mas eu preciso viajar ;-)



P.S: Dedicado a todos que me questionaram e a todos que não desistem de suas viagens ;-)

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Entrevista



Vale a pena ler essa entrevista, e todas as outras da série "Homens sem segredo", do Não2Não1 do Gustavo Gitti.
Tomo a liberdade de destacar aqui os trechos mais significativos para mim, e dou a vocês, esperando presenteá-los, assim como fui com esse olhar sensível, delicado e humano que tem o Luide. Que muitos homens se inspirem nessa profundidade.
O link está aí do lado.

"… o impulso não se destrói, mas se reforça e eleva; o desejo não se mata, mas se guia para uma contínua elevação. (…) Que novo espaço darão à vida as mais altas paixões! Quanta sutileza e profundidade de gozos possuirá o homem futuro…” –Pietro Ubaldi

"Não dê às nuvens o valor do céu. Quando miramos as nuvens, vamos juntos com elas: alegres, se claras; tristes quando cinzas. É inevitável que nuvens cinzas se formem. Também é inevitável que as belas nuvens se desfaçam… como agarrá-las? Entretanto, quando nosso foco é mais além, quando miramos o céu, atribuímos àquilo que passa um valor mais exato. Do que é passageiro só nos importa seu teor pedagógico."

"Com um abraço é possível ouvi-la. Um abraço dentro do qual o movimento é livre. Um abraço do qual se pode fugir, mas foge-se, ainda, dentro dele. Com um toque, de início tátil, mas seguindo sutil, é possível ouvi-la da cabeça aos pés; do seu corpo ao seu silêncio; da sua loucura à sua natureza real. As mãos podem ouvir a mulher ao correr seu corpo, mas essa mesma música do corpo é anterior a ele, e é o que sobreviverá a ele."

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Delicadeza



"Diante de uma mulher sensível, inteligente e em sua busca espiritual, minha força bruta, meus desejos sensuais, se acalmam. Surge, em lugar desses transitórios desejos, o respeito e o carinho. Meu mestre estava certo: “Não há força bruta que vença a delicadeza”. E como canta Drummond: “As coisas tangíveis tornam-se insensíveis a palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”."

Receber essa delicadeza, me fez entender mais a delicadeza e de certa forma conectá-la.
Recuei. Não há força bruta de raiva, de negativdade que vença a delicadeza da minha alma.
Não pode haver força bruta de mentira que vença a delicadeza de um caráter sincero.
A força bruta da dissimulação não pode vencer a delicadeza da autenticidade.
Como ele mesmo disse " uma coisa é caráter, outra temperamento".
Por muitos momentos lembrei de quem sou. De tudo que faz parte de mim. E fiquei feliz.
Alguém mais conseguia ter um olhar compassivo, sensível sobre minhas tentativas de dizer "olha, não sou tudo isso que você diz."
Eu sou cheia de nuances. Eu oscilo, eu danço entre algumas polaridades.
Mas pela primeira vez em anos, me sinto mais confortável nessa pele.
E muitas pessoas têm contribuido incrivelmente para isso.

Obrigada por todos esses olhares generosos que me fazem nascer a cada momento.


"As coisas tangíveis tornam-se insensíveis a palma da mão. Mas as coisas findas, muito mais que lindas, essas ficarão”.

sábado, 24 de novembro de 2007

Sobre o vazio

"Apegar-se é o problema, porque quando você se apega não pode ficar vazio.
Não se apegue – essa é a mensagem dessa técnica. Apenas não se apegue a coisa alguma positiva ou negativa porque com o não-apego você encontrará a si mesmo.
Você está aí, mas devido ao apego, você fica escondido.
Com o não-apego você ficará exposto, você ficará descoberto.
Você explodirá."
Osho

Aquela história de quando não se tem mais nada, não se perde nada é muito verdadeira.
Acho que pela primeira vez tenho vivenciado um vazio e um silêncio diferentes.
Por vezes vem a angústia, sensação de isolamento e loucura.
Porém, na maioria dos momentos, uma força inédita, uma liberdade enorme, uma sensação de estar em tudo e com todos, plenitude e integridade.
Não tenho a menor noção do que me espera.
Se há apego, há desespero.
Se há vazio, há conforto e fascinação. Afinal, há muito espaço aqui dentro, será inevitável que venhas.
O que vier é muito bem vindo nessa casa.
A dor, o amor, a solidão, as boas companhias.
Não mais o que encourace e aprisione
Esse ranso, está morrendo.
Sobre ele me deito, inútil proseguir negando.

Mas quando levanto, preciso voar.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Tantas coisas...

Aprender a andar, se sustentar em cima das próprias pernas é uma bela. Para muitos se resume 'a independência financeira.
Para mim se trata de muito, muito mais... Se sustentar em cima das próprias pernas é vivenciado na carne. No desamparo. Na solidão. Quando você passa por tudo isso e mais um pouco e ainda assim levanta, prossegue e age.... uma que liberdade.
Nesses momentos a tristeza e a dor ficam muito pertinho esperando o espaço pra entrar. E elas também devem entrar, não no espaço da liberdade, mas ao lado dela.

Dia desses recebi uma frase muito bonita: "O cactus é muito interessante: os espinhos são apenas na superfície, porque, interiormente, sua capacidade para reter água é, também, sua potencialidade para nos matar a sede"

Isso me fez olhar melhor para duas coisas: capacidade e potencialidade.

A capacidade de se prender é a potencialidade para se libertar
A capacidade de passar pelo sofrimento é a potencialidade para ser feliz
A capacidade de amar a si é a potencialidade de amar a todos

Os espinhos protegem e eles podem ferir. Mas fazem parte da natureza do cactus.
Aquele que enxerga sua capacidade além disso e todo seu potencial conseguirá esperar pela única flor que essa planta, de madrugada, na solidão, vai produzir.
E apenas os olhos sensíveis a apreciarão.

Olhar a capacidade, mas saber apreciar a potencialidade

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Autenticidade

Hoje recebi um presente. De alguém que não conheço, de um olhar muito lindo que lê esse blog.
É um presente porque toda sincronicidade tem sido um presente pra mim. É o mais perfeito sinal de conexão com o Universo.
Falo muito em autenticidade, verdade, honestidade, sinceridade, e quem me conhece sabe disso. São os valores que mais admiro nas pessoas e agora passo a pensar também sobre a simplicidade.
Porque ser autêntico só se dá quando se é verdadeiro. E tudo que inclui verdade é muito simples: Está de acordo com a essência, que é pra onde a gente procura voltar nessa jornada...
É de lá que viemos, de lá que nos perdemos, e conforme a lucidez brota, é para a simplicidade da essência que queremos voltar. É isso que quero dizer com "voltar pra casa".

Compartilho um texto que resume muito bem o que sinto. E que me emocionou demais.
Obrigada Luide, por essse presente.
Precisava muito voltar pra casa hoje.

Namastê

“No meu diário – ou neste meu subsidiário – nada se fará que não se faça em dimensão de absoluta autenticidade. Autenticidade? Que significará essa tão gasta palavra? A autenticidade é a verdade de mim. As mágoas. As irritações. Os possíveis ódios. Mas também as alegrias. A ainda inocência e a ainda ingenuidade, esses restos de infância que a gente querendo bancar o machão esconde com vergonha dentro da gente. A crença em Deus. E na crença em Deus, a também ainda crença nos homens. Os impulsos líricos. Os sonhos. O amor”.

Herberto Sales, em “Subsi Diário”

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Guerreiro

"Todo guerreiro já ficou com medo de entrar em combate
Todo guerreiro já mentiu no passado
Todo guerreiro já perdeu a fé no futuro
Todo guerreiro já trilhou um caminho que não era dele
Todo guerreiro já sofreu por bobagens
Todo guerreiro já achou que não era um guerreiro
Todo guerreiro já falhou em suas obrigações
Todo guerreiro já disse sim quando seu coração pedia que dissesse não
Por isso é que é um guerreiro
Porque passou por esses desafios e não perdeu a esperança de se tornar melhor"



P.S: Ká, dedicado a vc
Não esqueça a guerreira que é.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Now you're flying



"Poder usar sua inesgotável energia porque está livre
E abrir-se para todas as coisas porque está vazio"

A Arte Cavalheiresca do Arqueiro Zen

domingo, 11 de novembro de 2007

Retrô


You are never satisfied with what you have.
Maybe you don't know what you want. But you look a little weak, and you can break down at any moment.
You need to cry alone.
There's something in your soul that squeeze yourself. You don't know what it is.
It may be only a sensation. It may pass.
Or it may not.
It's the emptyness ever.
Alê 1993, Diário

" A nostalgia do Paraíso é o desejo do Homem de não ser Homem.
(...) O Idílio, esta imagem que ficou conosco do paraíso..."

Milan Kundera, A insustentável leveza do ser

Resgates, coincidências e muita informação espiritual.
Talvez porque muitos vejam o que eu não vejo.
É chegado o momento da grande batalha. E eu estou face a face contigo.
Caem os véus, e o arqueiro se prepara para lançar a derradeira flecha.
Não há nada óbvio e muito pouco racional. Por isso talvez, as consequências e o caminho pareçam assustadores.
Não há controle, nem tampouco é útil desejá-lo.
Apesar de tudo, é bom estar em meio a tempestade.
O escuro fascina
Os trovões inebriam
Lapsos de uma liberdade sem limites...

O idílio nunca esteve tão claro e forte.
A sua alma talvez nunca tenha experimentado essa sensação imensamente abstrata.
Talvez a loucura seja iminente.

Ou talvez, pela primeira vez em anos e sagas, você esteja experimentando o amargo sabor da lucidez.

Já estou farta da farda antiga.
Me vistam com minha túnica.
Quero mergulhar no mar.


P.S: Dia lindo. Tempo nublado, corpo relaxado e alma leve.

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Descoberta


Eu amo o homem que está por vir
Eu sempre amarei esse homem que está por vir
Na medida da surpresa que ele me reserva...

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Liberdade

A consciência é um barco que não sabe exatamente onde vai dar e nem tem para onde voltar...





P.S: Avô amado,
Lembrei de ti, vc iluminou esse dia e eu sei que ele foi muito feliz porque vc tava bem pertinho de mim
Meu amor infinito...

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Fugaz


"Amo o amor que se reparte
em beijos, leito e pão.

Amor que pode ser eterno
mas pode ser fugaz

Amor que se quer liberar
para seguir amando

Amor divinizado que vem vindo
Amor divinizado que se vai."

Pablo Neruda