Eu adoro os artigos do Contardo Calligaris e vez ou outra cito-os por aqui. Mas esse, em especial, veio em cheio. Recentemente, algumas pessoas começaram a me questionar: "Alê, você quer casar de novo? Ter filhos? O que você quer?" A princípio me senti como se estivesse prestando vestibular novamente, não entendia porque essas respostas tinham que estar prontas assim. Me sentia confusa, 'as vezes um E.T. porque isso não era uma grande questão pra mim... Resultado: eu só conseguia responder o seguinte "Não sei, não penso sobre isso agora. Só sei que quero muito viajar."
Quanto mais me incomodavam esses questionamentos repentinos, mais eles aconteciam e eu sempre respondia "Eu quero viajar". E se eles estavam se repetindo talvez fosse pra cutucar alguma coisa aqui dentro. E agora meus caros, com esse artigo do Contardo eu posso respondê-los e a mim mesma sobre o significado de viajar pra mim, e ao mesmo tempo, o significado do amor e das relações na minha vida.
"O amor e a viagem nos fazem descobrir que há algo, em nós, que não conhecíamos até então."
Ele cita "O Conto da Ilha Desconhecida", de Saramago, onde o protagonista explica seu desejo dessa forma: "Quero encontrar a ilha desconhecida. Quero saber quem eu sou quando nela estiver". Ele prossegue na fábula contando que no fim desse conto o protagonista não encontra a ilha mas uma mulher. E ele faz duas leituras interessantíssimas sobre esse desfecho:
1."Quem casa não viaja (a não ser de férias); casar-se é desistir de viajar. É o que pensam com frequência, homens e mulheres casados. E é também o que os leva, 'as vezes a se separarem. Quando achamos que o outro nos impede de viajar, ou seja, que ele nos priva da aventura de descobrir o que poderia haver de diferente em nós, o casal se torna nosso inimigo. Claro, na maioria dos casos acusamos o casal de uma inércia que é só nossa."
2. "O protagonista descobre que a mulher a seu lado é a própria ilha desconhecida que ele procurava e que a verdadeira viagem é o encontro com um outro amado. Faz todo sentido, pois o amor e a viagem a princípio, têm isto em comum: ambos nos fazem descobrir em nós algo que não estava lá antes. O outro amado nos transforma. Tanto quanto a chegada numa terra incógnita, ele nos revela algo inesperado em nós. Por isso, aliás, o viajante e o amante podem esbararrar em problemas análogos: 'as vezes por sermos transformados pela viagem ou pelo amor, não gostamos do que encontramos, não gostamos do efeito em nós do amor ou da viagem. Essa é, em geral, a única razão séria para se separar ou para voltar de viagem."
Entendo porque muita gente que conheço tem medo de viajar ou precisa de determinadas condições para fazê-lo, isso diz muito sobre como se relacionam. Precisam ter muito controle e para sair do conhecido, apenas com várias condições prévias (me incluí nisso diversas vezes), não querem encontrar o que pode não ser muito bom sobre si mesmos numa viagem ou na relação com o outro. Esse é o grande ponto que percebo no senso comum: querer o pacote (uma pessoa que os complete, um casamento, filhos e a felicidade eterna) e ter tudo milimetricamente controlado para que isso se concretize; porém são incapazes de viajar em si mesmos, a ponto de estarem tão plenos para saberem quem são quando isso acontecer.
Sobre mim, acabo de descobrir que meu fascínio por viagens é meu fascínio pelo amor. Como viagem pra mim não é significado de férias e amor de "pacote", quando me proponho a qualquer um dos dois é por estar sedenta de saber quem eu sou. O que de melhor e pior pode haver em mim, quando lá estiver. E que isso seja ao menos um bom refúgio pra quando a frustração acontecer, a ponto de eu não precisar voltar da viagem, mas prosseguir de outra forma nela.
Além disso, o consentimento da transformação do outro, da nossa e de uma relação é a maior forma de perdão e amor que encontro hoje.
E Contardo conclui brilhantemente:
"Os outros não são nenhum inferno, são uma viagem.
Agora para amar, como para viajar é preciso ter determinação e coragem."
Ah e respondendo definitivamente a essa questão eu quero viajar numa relação, ou uma relação que me permita a viagem. Mas eu preciso viajar ;-)
P.S: Dedicado a todos que me questionaram e a todos que não desistem de suas viagens ;-)
Quanto mais me incomodavam esses questionamentos repentinos, mais eles aconteciam e eu sempre respondia "Eu quero viajar". E se eles estavam se repetindo talvez fosse pra cutucar alguma coisa aqui dentro. E agora meus caros, com esse artigo do Contardo eu posso respondê-los e a mim mesma sobre o significado de viajar pra mim, e ao mesmo tempo, o significado do amor e das relações na minha vida.
"O amor e a viagem nos fazem descobrir que há algo, em nós, que não conhecíamos até então."
Ele cita "O Conto da Ilha Desconhecida", de Saramago, onde o protagonista explica seu desejo dessa forma: "Quero encontrar a ilha desconhecida. Quero saber quem eu sou quando nela estiver". Ele prossegue na fábula contando que no fim desse conto o protagonista não encontra a ilha mas uma mulher. E ele faz duas leituras interessantíssimas sobre esse desfecho:
1."Quem casa não viaja (a não ser de férias); casar-se é desistir de viajar. É o que pensam com frequência, homens e mulheres casados. E é também o que os leva, 'as vezes a se separarem. Quando achamos que o outro nos impede de viajar, ou seja, que ele nos priva da aventura de descobrir o que poderia haver de diferente em nós, o casal se torna nosso inimigo. Claro, na maioria dos casos acusamos o casal de uma inércia que é só nossa."
2. "O protagonista descobre que a mulher a seu lado é a própria ilha desconhecida que ele procurava e que a verdadeira viagem é o encontro com um outro amado. Faz todo sentido, pois o amor e a viagem a princípio, têm isto em comum: ambos nos fazem descobrir em nós algo que não estava lá antes. O outro amado nos transforma. Tanto quanto a chegada numa terra incógnita, ele nos revela algo inesperado em nós. Por isso, aliás, o viajante e o amante podem esbararrar em problemas análogos: 'as vezes por sermos transformados pela viagem ou pelo amor, não gostamos do que encontramos, não gostamos do efeito em nós do amor ou da viagem. Essa é, em geral, a única razão séria para se separar ou para voltar de viagem."
Entendo porque muita gente que conheço tem medo de viajar ou precisa de determinadas condições para fazê-lo, isso diz muito sobre como se relacionam. Precisam ter muito controle e para sair do conhecido, apenas com várias condições prévias (me incluí nisso diversas vezes), não querem encontrar o que pode não ser muito bom sobre si mesmos numa viagem ou na relação com o outro. Esse é o grande ponto que percebo no senso comum: querer o pacote (uma pessoa que os complete, um casamento, filhos e a felicidade eterna) e ter tudo milimetricamente controlado para que isso se concretize; porém são incapazes de viajar em si mesmos, a ponto de estarem tão plenos para saberem quem são quando isso acontecer.
Sobre mim, acabo de descobrir que meu fascínio por viagens é meu fascínio pelo amor. Como viagem pra mim não é significado de férias e amor de "pacote", quando me proponho a qualquer um dos dois é por estar sedenta de saber quem eu sou. O que de melhor e pior pode haver em mim, quando lá estiver. E que isso seja ao menos um bom refúgio pra quando a frustração acontecer, a ponto de eu não precisar voltar da viagem, mas prosseguir de outra forma nela.
Além disso, o consentimento da transformação do outro, da nossa e de uma relação é a maior forma de perdão e amor que encontro hoje.
E Contardo conclui brilhantemente:
"Os outros não são nenhum inferno, são uma viagem.
Agora para amar, como para viajar é preciso ter determinação e coragem."
Ah e respondendo definitivamente a essa questão eu quero viajar numa relação, ou uma relação que me permita a viagem. Mas eu preciso viajar ;-)
P.S: Dedicado a todos que me questionaram e a todos que não desistem de suas viagens ;-)