sábado, 2 de agosto de 2008

O silêncio que não é , um turbilhão de calmaria


"Ah girassol, farto do tempo
Os passos do sol a contar,
O clima dourado e ameno a buscar
Em que a jornada do viajante chega a seu termo,
Quando a juventude que com o desejo se esvaiu,
E a pálida virgem que de neve se cobriu,
Hão de ansiar e de seus túmulos ressurgir
Para onde meu girassol deseja ir!" 
William Blake

Pausa.
Em tempos de muitos desejos, o silêncio é bem vindo. Antes de ceder ao impulso de mais e mais ação, contraio, interrompo o movimento que muito provavelmente levaria a desdobramentos conhecidos. Experimento o que é esse silêncio e o que virá disso.

Respiro.

Para esses momentos filmes são excelente companhia. Atualmente me interesso por epopéias, figuras históricas e expedições na Natureza, como por exemplo "Alexandre, o Grande" e "No ar rarefeito".

Tenho muito interesse por figuras inovadoras, vanguardistas, revolucionárias, guerreiras, não sei bem a razão. Mas dessa vez, as aventuras fantásticas desses filmes não me tocaram como antes. Não que deixe de admirar esses desbravadores e suas viagens, mas talvez por estar um pouco mais atenta ao que os move, não mexeram tanto comigo...
A saga de Alexandre comprova um monte de coisas que aprendo bem aos poucos com o Budismo e com a vida, por exemplo: quando o foco é a competição não relaxa-se e por mais prazeres e conquistas que obtenha-se, sempre busca-se mais e mais, incansavelmente... Sob orgulho, não há espaço para o outro, ele é apenas mais uma referência para afirmação do que se é ou não,  prestando serviço  apenas a um ego frágil... Alexandre era extremamente carismático, corajoso, mas perdeu de vista a realidade quando a única coisa que via a frente eram suas buscas. Como ele disse: "Cada terra, cada fronteira que cruzo é o fim de mais uma ilusão. Sinto que a morte será a última. Mas continuo avançando para achar esse lar".

Admiro quem quer vencer seus medos e principalmente a si mesmo, mas tenho pensado nas diferentes maneiras de fazê-lo que não sejam apenas grandiosas. O quanto vencemos a nós mesmos quando nos relacionamos realmente com os outros, de forma que haja troca e parceira. Cada vez que incluimos um outro no nosso mundo, nos nossos desejos, nos nossos sonhos parece que um destemor naturalmente  surge e outras perspectivas se abrem para além do simples controle...
"Os sonhadores nos esgotam, precisam morrer antes que nos matem com seus malditos sonhos" - do filme Alexander. "Estamos mais sós quando estamos no mito." A solidão do mito no topo de um ideal talvez seja a fonte da sua tragédia. O herói não é menos solitário mas talvez a diferença principal esteja no fato de que este volte para contar sobre sua jornada aos demais e nesse compartilhar, essa solidão tenha um outro sentido, bem mais profundo. O desejo pelo mito, o ideal e a falta de medo para muitas coisas pode ser perigosa, não necessariamente uma coragem, mas uma certa arrogância ou simplesmente falta de aceitação dos limites.

Não deixo de acreditar na frase de Virgílio de que a sorte favorece os audazes. Será que também não é ousado arriscar um monte de "verdades" para viver uma vida mais consciente e simples? Não é necessário ser ousado para andar contra a corrente desse monte de valores que não fazem mais sentido e se render ao que seja mais lúcido mesmo que desconstrutor, nem que seja por breves momentos?
A ousadia parece estar mais ligada 'a simplicidade do que me ocorria antes.
E a liberdade 'a aceitação de limites do que eu jamais havia percebido...

No Everest quanto mais se avança em direção ao cume, mais o ar se torna rarefeito e menos tempo é possível permanecer para desfrutar do êxtase. Não é bela essa metáfora? Então penso, o ar é rarefeito no auge, os êxtases não duram mais do que devem durar sua natureza de êxtase, assim como todas as emoções. Seria maldição e inveja dos deuses como acreditavam os gregos? Ou uma insistência humana em alcançar o que não se alcança, vencer o que se deveria reverenciar, tocar o que não é tátil, fazer durar o que é e será efêmero, porque essa é sua natureza?


"Sem sair da porta,

conhece-se o mundo;

Sem espiar pela janela,

vê-se o Caminho do céu.

Mais longe a sua saída,

menor o seu conhecimento.

Portanto, o Sábio

não caminha

e mesmo assim conhece;

Não olha

e mesmo assim nomeia;

Não age e mesmo assim conclui."

TAO-TE-CHING
Aforismo 47






Um comentário:

Javier B. Martínez disse...

Bonitos girasoles...
El verdadero poder reside en la nobleza de corazón.
Saludos desde España