quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Respeitável Público

Foto via @Teen & Art


Ela veste roupa e botas brancas e sobe por um tecido
Balança com muito impulso para frente e para trás
(como naqueles balanços que eu adorava no parque ou na pracinha da cidade do meu avô)
Com a leveza de um pássaro e precisa como um gato ela faz acrobacias com o vai e vem
Numa delicada entrega ao vazio além das cordas e a barra
E quando volta para o trapézio, é como uma dança

Meus olhos marejam

Alguém diz: ela está com um cabo de aço, aí não tem graça.

....

Ele veste roupas estravagantemente brilhantes
E dá boas vindas ao mundo da fantasia
(como quando ia aos parques de diversões)
Gesticula com as mãos com a leveza de um maestro do nada
E retira o tecido do que era antes num toque só
E algo novo surge, surpreendente
Numa delicada aparição de um vazio para outro
Ele faz desaparecer pessoas, uma moto e até aparecer um helicóptero

Meus olhos ficam hipnotizados de encantamento

Alguém diz: muito manjado, a gente sabe que é truque.

...

Você pode (até) acreditar no que alguém diz

Mas não perca o espetáculo.

domingo, 25 de novembro de 2012

Segredos de liquidificador

Água
Amêndoas
Tampa
Velocidade 8.

Nada.

Acende a luz pra ver se era falta de energia
Recoloca o copo e a tampa pra ver se estavam fora do lugar

Nada.

Será que queimou?
Solta um palavrão.

Nada.

Desencana e vai pra sala
...

Volta para tomar uma água e sorri como uma criança peralta:

O liquidificador estava apenas fora da tomada.

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

Esmalte



 Another wall in the brick/Buenos Aires - Foto: Alessandra Marcuzzi

Ela sempre tem dúvida sobre o esmalte que vai passar.
E se passa ou não esmalte nas unhas feitas, sem excessos.
Assim que a manicure terminou: "Qual cor vamos passar?"
Ela deu um suspiro e pensou nos locais que pretendia ir e pessoas que iria encontrar, roupas que iria usar... Esse caminho não funciona para ela mas mesmo assim quase sempre é o mesmo roteiro...
Ela suspirou: "Não sei, daqui a pouco te digo."
Depois do pensamento ter ido bem longe do salão de beleza, a manicure pergunta de novo: "E aí qual cor vamos passar?"
Ela suspira e responde: Vermelho.

....

Depois de uma semana o vermelho foi descascando e a cor das unhas aparecendo.
Ela costuma deixar descascado, gosta do estilo que o mundo fashion chama de "podrinho" mas que para ela significa apenas as coisas no seu tempo, como são.
Mas como incomoda um esmalte descascado. Todo dia na hora de colocar os anéis, aquelas lascas de unha por debaixo de uma cor. Curioso que na hora do trabalho pouco faz diferença porque os dedos se perdem entre folhas, flores e baldes de água.
Agora ela fica em dúvida se tira ou não o esmalte, pensa nos locais que pretende ir, nas pessoas que vai encontrar, nas roupas que vai usar... Aquilo não funciona para ela mas mesmo assim é quase sempre o mesmo roteiro...
Ela deixa pra lá.
Depois de muitas coisas feitas durante o dia ela olha pros dedos das mãos na hora do banho.
Ela suspira e pensa: Descascado.

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Nos pênaltis



Assistindo um jogo de futebol uma amiga e um amigo conversam:

Ela: Posso te fazer umas perguntas e você me responde objetivamente? Porque sinceramente eu já sei que vai responder senão nem perdia meu tempo.
Ele: Diga.
Ela: Você me acha uma pessoa que fica querendo atenção?
Ele: Não, mas quem não quer?
Ela: Você me acha chata e cansativa?
Ele: Claro que não, você é uma das pessoas mais divertidas que conheço.
Ela: Você me acha arrogante?
Ele: Como assim? Você é uma das pessoas com quem mais me sinto 'a vontade. Como você pode pensar isso tudo de você?
Ela: Não sou eu, é um cara que disse isso pra mim.
Ele: Que cara?
Ela: Um que saí pra conversar algumas vezes.
Ele: Vocês ficaram?
Ela: Não.
Ele: Ah então tá explicado.
Ela: Você acha que eu me acho superior aos homens?
Ele: Claro que não! Senão por que eu me sentiria a vontade com você? Que conversa besta.
Ela: Você acha que eu sou direta e isso afugenta as pessoas?
Ele: Sim você é, e afugenta quais pessoas? Eu acho ótimo, pra mim afugentam pessoas que não falam logo o que querem dizer e ficam fazendo joguinhos. Você não é assim.
Ela: Acho que o cara que chutou não tava concentrado no jogo.
Ele: É, mas aquele pênalti do brasileiro foi bom, bem colocado.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Casamento de verdade é sempre de mentira


Escher's Relativity - MC Escher


Mais um texto fora do trans mutando para o Papo de Homem, segue o texto na íntegra :-)

Para ser marido e mulher é preciso, antes de tudo, fantasiar ser marido e mulher.
“Mentiras são sonhos pegos em flagrante”
- do filme “Amantes e Infiéis”

Um estrangeiro estava num dilema: queria ficar no Brasil mas seu visto estava vencendo. Então, sua namorada brasileira propôs que ele se casasse de mentira com ela para que pudesse permanecer no país. O de mentira era no sentido de que estaria claro que eles se casariam apenas pelo visto e continuariam a se relacionar como namorados, mesmo morando juntos.
Paralelamente ele pergunta a uma amiga se ela poderia casar com ele pois assim se sentiria mais a vontade com o “contrato” já que não havia nenhum vínculo amoroso. Ele argumentava que não se sentia a vontade para casar com a namorada porque queria ser livre: e se ele quisesse terminar? E se ela de repente mudasse e começasse a levar o casamento a sério?
Ele não se sentia à vontade para casar com ela de mentira porque a relação era recente e ele não queria se sentir preso.
O mais curioso é que, em nenhum momento, ele considerou questões práticas como bens, burocracia, nem mesmo monogamia. Gostava dela e queria ficar só com ela.
Pelo contrário, suas dúvidas eram daqueles sentimentais e difíceis de mensurar: como dividir e como romper, como casar e como descasar.