quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Viajar Rezar Amar

Eu num rio seco encontrado de surpresa na estrada rumo a Queenstown/Nova Zelândia. Inesquecível.

"Aprenda a lidar com a solidão. Aprenda a conhecer a solidão. Acostume-se a ela pela primeira vez na sua vida. Bem vinda a experiência humana." Elizabeth Gilbert



Esse texto surgiu a partir do filme "Comer, Rezar, Amar". Eu cheguei até esse filme a partir de comentários de amigas que insistiam para que eu lesse o livro pois era "a minha cara". Confesso que o livro não me agradou (não passei do primeiro capítulo) quanto ao filme achei um tanto superficial e esteriotipado mas com momentos divertidos e nuances interessantes. O que escrevo aqui é a partir do meu olhar de hoje sobre a minha própria história, que de certa forma guarda tantas semelhanças com a de Elizabeth quanto com qualquer outra humana que inclua amor, dor, busca e uma certa coragem.

Em resumo, a protagonista Liz resolve fazer uma viagem para Itália, Índia e Bali após um divórcio doloroso, um novo relacionamento frustrado e muitas perdas. A proposta era realizar alguns desejos: aprender italiano e comer muito bem na Itália, se hospedar no ashram da guru do ex-namorado na Índia e terminar o ano em Bali com um xamã que havia conhecido um ano antes e que tinha feito muitas previsões para a vida dela. (de acordo com o livro ela foi patrocinada por uma editora para que escrevesse um livro sobre essas vivências). Esse primeiro texto surgiu para compartilhar alguns fatos e sensações sobre essas "semelhanças" sendo a principal diferença que muito do que Liz vivenciou em viagens eu experienciei aqui mesmo no Brasil, a maior parte do tempo dentro do apartamento onde morei com meu ex-marido.
No auge da adolescência meu maior sonho era encontrar o "homem da minha vida" e  ter uma relação "de verdade", daquelas em que construímos uma vida juntos, passando por tudo o que for necessário. Não era casamento nem filhos, era exatamente essa descrição. Depois do término do meu primeiro namoro, alguma fada madrinha me ouviu e eu conheci e me casei com esse homem como já foi relatado nesse texto antigo.
Durante uma determinada parte do casamento, minha vida era tão formalmente perfeita que eu me sentia extremamente culpada por ter crises e inquietações e as pessoas ao redor reafirmavam o quanto eu não tinha "do que reclamar" (o que só piorava minha angústia) mas o fato é que eu sentia falta de algo que não sabia explicar o que era. Como Liz, chorei muitas vezes sozinha no banheiro para que ele não ouvisse, implorei ajoelhada a Deus por uma saída, sofria querendo uma mudança que não sabia qual era, num limbo existencial terrível. A angústia não era a falta de amor por aquele homem mas talvez de alguma aspiração perdida dentro daquele sonho tão bem empacotado e do qual eu não me sentia mais parte.
Nos seis meses que antecederam o fim, comecei a engatinhar alguns passos rumo a essas aspirações, pois aquela angústia havia chegado a um primeiro limite. Tudo começou quando ainda casada, reservei um fim de semana num hotel com atividades que incluiam espititualidade (interesse sempre presente em minha vida e cultivado de várias maneiras desde a infância). Fiz minhas malas escondida para que meu marido não percebesse, não queria nenhum empecilho emocional ou prático para aquela pequena subversão. Naquela sexta-feira, pela primeira vez na vida peguei a estrada sozinha para um lugar desconhecido, encrustrado nas montanhas de Minas Gerais. Esse fim de semana marcou o momento em que não daria mais pra voltar atrás, descobri que por mais que ainda houvesse amor por meu marido, nosso relacionamento não mais acompanhava algumas necessidades e buscas que estavam muito vivas em mim, apesar de adormecidas até então.
Meses depois o rompimento se concretizou, de uma forma prática bem mais feliz que a de Liz, mas com muita dor também. Minha mãe teve um enfarto no mesmo mês da separação e minha vida estava completamente sem chão, se eu já não sabia quem era no casamento, fora dele parecia que a coisa tinha ficado pior, não havia homem da vida, casal perfeito, nem lar doce lar, nenhuma única identidade para me apoiar!  Fragilizada, abafei um pouco da dor querendo "poupar" minha família para que não se desestruturasse ainda mais. Naquele momento eu era apenas um contorno de alguém com duzentas coisas práticas e urgentes para lidar, sendo eu mesma a última prioridade…
Passado o furacão e a apatia depressiva, resolvi levantar e encarar a vida sozinha, tomada por uma grande curiosidade de saber que cheiro e que gosto tinha, nada podia ser pior do que estar sem perspectivas. Estava com vinte e tantos anos e muito medo, mais uma vez estaria na "contramão" em relação a maioria das pessoas; namorei a vida toda e não tinha muita experiência de "balada", embora sempre tenha saido com amigos, mas estava me relacionando desde os 14 anos e há 11 anos com uma única pessoa! Quando me casei minhas amigas estavam se dedicando a carreira e vivendo a vida de solteira intensamente, agora separada, muitas estavam a procura de um parceiro e bem sucedidas enquanto eu queria descobrir como seria minha vida sem o referencial de uma relação amorosa e ajustar o profissional que estava instável há um bocado de tempo.
Um pouco mais fortalecida e com o apoio de novas amizades, embarquei numa vida social completamente nova e durante aquele ano me permiti fazer apenas o que eu desejava de verdade. Fiquei surpresa (pra bem e pra mal) em como mundo havia mudado! Comecei a frequentar círculos e locais diversos, conhecendo em um ano mais gente que havia conhecido nos últimos 10 anos. Paralelamente comecei a estudar o Budismo em um Centro (não com a mesma frequência, confesso rs) e era quase esquizofrênico para meus amigos: um fim de semana eu estava em Maresias curtindo praia e balada e na semana seguinte em algum evento de yoga ou retiro espiritual.
Nesse tempo me atirei em tudo que me fizesse confrontar com velhos medos e paradigmas e que me trouxesse novas experiências, desde fazer hipismo para perder o medo de cavalo a trabalhar em outro Estado com pessoas totalmente desconhecidas. Sentia uma necessidade visceral de respirar novos ares, de saber quem eu era sozinha. Uma das maiores experiências aconteceu no fim daquele ano, uma dessas amigas recentes me convidou para uma viagem a Austrália e Nova Zelândia que estava planejando há algum tempo e era exatamente a viagem que eu cogitava como um próximo sonho com meu ex-marido. Não hesitei, principalmente pela chance de perder o medo de viajar sozinha de avião, optei por pegar um vôo separado de minha amiga para o outro lado do mundo no dia 24 de dezembro, a primeira vez em que passaria o Natal sozinha com umas 19 horas de vôo pela frente.
Como Liz, também conheci um outro homem depois da separação por quem me apaixonei e com quem tive uma relação muito viva e cheia de energia, fundamental pra desabrochar qualidades como mulher também muito novas pra mim. Soube enfim, o que era amar novamente, esse foi, de certa forma, meu "Comer, rezar, amar."
Passado anos de tantos acontecimentos fortes, descobertas fascinantes, grandes novidades, emoções, viradas de vida e desejos realizados, minha visão tem mudado frequentemente, grande parte graças a espiritualidade. Durante os anos desse relato inicial acredito que eu tenha atravessado a tempestade a nado com tudo que tinha pela frente (como bem disse meu ex- namorado) com a sorte de muitos oásis no caminho. Mas olhando um pouco mais de perto a maior parte do que eu desejava estava muito atrelada ao externo (o que é de certa forma natural) a um certo vício por esse alimento que era dado a cada superação e ousadia realizada. Na ausência disso parecia que eu enfraquecia, havia uma queda de energia quando as condições começavam a ficar não tão favoráveis, a frustração era muito mais dolorida, dramática. Então, após o rompimento daquele novo relacionamento e de muitos fatores externos em constante desconstrução, eu comecei a experenciar um novo caminho sozinha, no sentido de cada vez menos referências passadas para me apoiar, muitas estruturas ruidas e o chão desabando de forma bem mais profunda (incluindo o abandono da minha ex-profissão por uma que não tinha a menor idéia do que poderia acontecer). Sem a referência de uma relação amorosa, foi natural e diria até inevitável, o maior aprofundamento no meu processo individual por não poder escapar de mim mesma de nenhuma maneira.
E como alguém que tem gosto especial por aventuras, essa, apesar de muito mais dura e desafiadora, eu também não poderia perder. Há poucos anos iniciou-se meu “Pensar, contemplar, repousar", o meu caminho natural para depois de um "Viajar Rezar Amar", tema da segunda parte desse texto.
Quero registrar aqui gratidão a cada elemento dessa maravilhosa jornada, cada amor, cada paixão, cada lugar, cada ser, cada companheiro de caminho. Gratidão a essa casa onde moro que me acolheu nesse processo todo, que foi castelo de Cinderela a ninho de águia. 

E adeus a tudo que renuncio e abro mão nesse exato momento, adeus com muita gratidão.



P.S: A trilha sonora de "Eat Pray Love" é muito boa, convido vocês a ouvirem duas músicas: uma do filme cantada pelo Eddie Vedder e outra do Hoodo Gurus que poderia estar no meu filme "Travel Pray Love" ;-).

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Homens reais - Fabiano Murgia



O sétimo generoso entrevistado conheci como terapeuta e depois tornou-se amigo, fiquei muito contente que ele tenha aceitado o convite pra ser o "sétimo elemento" rs. As respostas são bem eleboradas, com citações interessantes e alguns questionamentos da própria pergunta (o que gosto muito). A que mais chamou minha atenção foi a da pergunta 03 e esse trecho da pergunta 1: "Compreender alguém é gesto espontâneo, necessita disposição interna e extrema paciência."



Nome: Fabiano Murgia
Idade: 39 anos


1.Que tipo de mulher entende melhor os homens?

Começaria dizendo que o entendimento é oposto ao ser (humano) mulher. Explico-me. Supõe-se que o feminino, e não apenas a mulher, tenha melhores condições de lidar com a compreensão. A compreensão, diferentemente do entendimento que é mental e masculino, é subjetiva e interna, visceral. Enquanto o entendimento se utiliza do raciocínio e da lógica mental para significar uma experiência, a compreensão busca olhar completo e mais adiante, busca sentir com totalidade. Não significa que existe um olhar melhor que outro, apenas maneiras distintas de olhar a mesma situação. Assim, eu diria que se torna complexo a mulher “entender” o homem, apesar de ser perfeitamente possível.
Tentando abster-me das questões sócio-culturais que estamos envolvidos, diria que o entendimento e/ou a compreensão deveria ser uma característica que transcende ao binômio homem e mulher. Claro que seu público, provavelmente, tenha maior interesse nessa resposta, mas todo binômio carece atenção. A dificuldade encontrada na relação entre amantes é o mesmo que se apresenta entre pais e filhos, entre irmãos, entre amigos, entre parentes etc.
O ser humano está em queda (risos). Compreender alguém é gesto espontâneo, necessita disposição interna e extrema paciência. Necessita aquilo que alguns autores chamam de “amigos de infância”. Necessita ter muita capacidade de ouvir e enxergar o outro com os olhos dele, não com os nossos. Necessita parar o tempo, ter paciência e, acima de tudo, se conhecer razoavelmente bem. Precisa do presente, atemporal, e sair das ramificações do passado e do futuro...
Assim, aquele que se compreende é aquele que tem maior facilidade para compreender o outro, sendo esse outro o(a) parceiro(a) ou não. Sempre ‘brinco’ dizendo para as pessoas que existe sempre uma tríade em qualquer coisa que empenhamos nossa atenção, disposta necessariamente nessa ordem: 1. Eu me amo (me respeito, me compreendo etc); 2. Eu amo o outro; 3. O outro me ama.
Então, para compreender melhor o homem é necessária prévia compreensão pessoal.

2. Quais as características de uma mulher que você admire que melhor represente o feminino?

Considero de notável consideração quando a mulher, ou melhor, o feminino, manifesta a sua capacidade de escutar. O escutar é muito mais que ouvir com os ouvidos. É apresentar disponibilidade interna, que é complicada e sutil. Para escutar preciso, necessariamente, abster-me do que supostamente sei (ou acho que sei). E preciso digerir o que foi a mim falado, praticando o silêncio dentro de mim. Alberto Caeiro dizia:
“Não basta abrir a janela 
Para ver os campos e o rio. 
Não é bastante não ser cego 
Para ver as árvores e as flores. 
É preciso também não ter filosofia nenhuma. 
Com filosofia não há árvores: há idéias apenas. 
Há só cada um de nós, como uma cave. 
Há só uma janela fechada, e todo o mundo lá fora; 
E um sonho do que se poderia ver se a janela se abrisse, 
Que nunca é o que se vê quando se abre a janela.”
Para escutar preciso me abster das críticas e julgamentos, preciso não ter filosofia nenhuma... Óbvio que isto poderia ser a busca de todos, não apenas das mulheres.

3. Há alguma crença que vc tinha sobre as mulheres/relacionamentos e que está reavaliando atualmente?

Claro, sempre... Tendo vivido dois casamentos e outras relações significativas não poderia, de maneira alguma, me isentar da responsabilidade de me auto-avaliar e, conseqüentemente, reavaliar as relações que tive. Talvez a mais significativa no momento seja a resistência à entrega. O mundo contemporâneo gerou em nós, independentemente do sexo, um senso de urgência absurdo. Com isso, os valores foram colocados em xeque. Percebo que ainda estamos nos organizando diante de toda essa transformação que estamos passando. De qualquer maneira, isso nos tornou mais “independentes”, mais “egoístas”, características relevantes nessa transição. Se por um lado isso possibilita supostamente menos projeções, também nos torna supostamente descrentes de relações que são as bases das trocas interpessoais e do crescimento individual e anímico. Inegavelmente que essa realidade traz um conflito muito grande do ponto de vista psíquico: “Estou defendendo da troca ou sou independente?“, alguns certamente já se perguntaram. E, como a vida considerada moderna apresenta resoluções cada vez mais imediatistas, a nossa tendência é nos afastar do conflito, ou seja, da relação. Diria que a renúncia de aspectos pessoais para a relação está cada vez mais extinta. Isso é muito perigoso, pois, em geral, assumimos uma conduta extrema, sem bom-senso, favorecendo o aparecimento cada vez maior de relações consideradas fortuitas ou altamente voltadas para conveniências. Diria que o amor ficou descrente (risos).

4. O que os homens realmente querem?

O ser humano quer se sentir inteiro, inclusive os homens. Sempre! Meu ofício permite que troque com vários deles semanalmente, sendo figuras cada vez mais carimbadas nos consultórios psicológicos. Felizmente! O mito de que o homem é o sexo forte está cada vez mais na contramão nos dias de hoje, apesar do pré-conceito ainda existir. Muitos deles querem se compreender, compreender como se move a vida atual, o que precisam fazer e qual o antídoto mágico para que isso aconteça. Querem se sentir completo em algo, mesmo que exista algum tipo de fracasso futuro.
Acredito que essa busca é princípio da própria natureza. Não tem como fugir disso! A loucura da vida moderna permite o aparecimento de movimentos significativos, gerando mudanças do social para o pessoal e vice-versa. E, diante disso, tudo está em constante mutação.
Vejo que alguns buscam novas motivações, mostram mais interesse, e querem corresponder ao que os cercam. Prestam mais atenção e se sentem atraídos por coisas que não sentiam antes. Buscam novo sentido existencial.
Mas é claro que apenas os considerados corajosos que mostram sua verdadeira face, ainda minoria. A sociedade desempenha um papel massacrante em todos nós, fazendo com que criemos verdadeiras máscaras sociais. Em sua grande maioria, homens (e mulheres) com medo de se acharem se perdem, descrentes do que querem e do que podem alcançar. Porém, acredito plenamente na reestruturação como um todo.

5. Onde você acha que os homens mais erram na hora da sedução? E onde acertam?

Puxa, é muito complexo tecer comparações. Acredito que cada qual tem uma maneira de abordar e seduzir. Cada um é cada um! Da mesma maneira, que cada mulher sente-se atraída ou não por uma abordagem e sedução. Definitivamente não existe uma regra matemática... Diria que depende muito do clima disponível no momento e do que cada um busca. O acerto é quanto essas duas instâncias se combinam e, conseqüentemente, o desacerto é o oposto.
Então o adequado, e não o certo, é saber observar e ter discernimento do seu ‘objeto’ de desejo. Sem observar atentamente, a multa por atravessar o farol fechado pode ser grande! (risos).

6. Onde você acha que as mulheres mais erram no relacionamento com os homens? E onde acertam?

Puxa, definitivamente não existe uma receita de bolo. Cada indivíduo é cercado de seus próprios valores e complexidades, independente do sexo. Não existe uma resposta genérica que atenda a todos. Posso dizer o que a mim se torna significativo, tendo como referências as relações que tive.
E, inegavelmente, o aspecto que mais me chama a atenção é o caráter sigiloso que as relações deveriam ter. Em geral, e também baseado nas pessoas que atendo cotidianamente, as mulheres buscam muito a divisão com outrem dos conteúdos que são expressos em suas relações íntimas. Até aí normal. Porém, diante de crises e situações de stress, essa característica é altamente questionável. De nada adianta dividir um conteúdo expresso em minha relação íntima com alguém se existe caráter de urgência. O outro que escuta, naturalmente tendencioso por quem o conta, por mais capacidade que tenha, se baseará nas informações que foram expressas concretamente, jamais tendo capacidade de ‘apreender’ a dimensão do contexto que o casal viveu. Nunca conseguimos passar o contexto de uma relação para alguém, pois só quem vive é quem pode compreendê-lo. Assim, o outro que opina, estará julgando superficialmente a pessoa em questão, baseado no olhar de seu interlocutor, que é totalmente diferente do que essa pessoa em questão realmente é. Analisar uma relação pela imagem, sempre parcial, que o outro tem de alguém é erro clássico e ainda comum. Para isso existem os terapeutas, rabinos, padres, psicólogos etc.
Antigamente, nossos ancestrais tinham uma visão diferenciada nesse sentido. Costumavam não se intrometer nas relações dos filhos e os impediam, uma vez casados, de retornar à casa de origem. Naturalmente, o acerto está no contrário. Quando a mulher, madura de si, não necessita do outro (contaminado) para compreender a si mesma.

7. Quais as maiores confusões que vc vê na relação entre homens e mulheres? Como simplificá-las?

Acredito que o maior desafio em toda relação íntima é lidar com a própria proximidade. Com a proximidade, aspectos individuais costumam vir à tona e acabamos por conhecer aspectos desconhecidos até então. Por isso que a maioria dos recém-casados diz, muitas vezes em tom de brincadeira, que não reconhecem mais com quem se casaram. Com a proximidade, aspectos sombrios inegavelmente aparecem como verdadeiros fantasmas, fazendo com que cada qual tenha que conviver com particularidades do outro até então desconhecidas. A partir desta realidade, que invariavelmente freqüenta todas as relações, outros componentes se fazem presentes, como a rotina, a maneira que cada um lida com as situações de stress, a maneira que cada um soluciona uma crise, assim como as próprias crises de identidade. A relação íntima é a mola propulsora, talvez a mais significativa, de nossa própria evolução individual, pois requer de nós muita coragem e resiliência. Assim, partindo do pressuposto que a maior confusão é a própria relação e o que dela se origina, quanto mais nos conhecemos, tanto maior a possibilidade de êxito e de transformação das inevitáveis crises de todo relacionamento afetivo.

8. Casamento, morar junto, relacionamento aberto ou solterice? Por que?

Depende do contexto. Perguntas muito diretas nunca nós dá direito a explanar melhor o caminho. Em geral, são muito masculinas, meio como a vida se mostra hoje: a resposta precisa ser dada, carimbada e executada no mesmo instante. Prefiro jogar conversa fora, como coloca Rubem Alves: “... joga-se fora aquilo que não é para ser guardado. Não se diz “jogar conversa fora” de conversas de negócios entre executivos. Nas conversas de executivos nada é para ser jogado fora. Cada palavra vale dinheiro. Jogar conversa fora é uma brincadeira parecida com soprar bolhas de sabão. As bolhas de sabão são de curta duração. Mas são tão divertidas... Vão-se umas, sopram-se outras...”. Diria, tendo como base o que chamamos de modernidade, que o caminho mais viável atualmente é casamento em casas separadas. Com a valorização da individualidade na contemporaneidade, o casamento convencional parece estar com os dias contados. De um lado, isso proporciona uma interessante transformação nos indivíduos, que podem se tornar mais inteiros, desenvolverem a própria individualidade, sem a necessidade de projetarem em alguém suas próprias carências. Fim ao conto que de existe a metade da laranja. Jonh Lenon sabia disso: “...não nos contaram que já nascemos inteiros e que ninguém em nossas vidas merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta...A gente só cresce através da gente mesmo. Se estivermos em boa companhia é só mais agradável”. De outro lado, pode-se confundir individualidade com individualismo, que possui significados distintos. A individualidade permite o olhar consciente a si próprio, sabendo que o outro é apenas uma extensão, não sendo assim responsável por atender minhas expectativas. Sou primeiro eu, para depois ser para o outro. No individualismo, nota-se um tom exclusivista, egoísta, onde apenas minhas necessidades precisam ser, supostamente, atendidas, fazendo com que os relacionamentos caíam por terra. O outro é objeto de minha própria ‘masturbação’, sendo responsável apenas por me trazer prazer. Creio que ainda estamos engatinhando nesse sentido. Que não podemos precisar onde desembocará essa tentativa de experimentar novo contexto relacional.

9. O que você pensa sobre infidelidade?

Infidelidade? Bom, sinto a infidelidade sendo aspecto natural da vida, como a alegria, a tristeza, o amor, a raiva etc. Não acho lícito estabelecer parâmetros e definições para sentimentos, mesmo porque quando procedemos dessa maneira engaiolamos e molduramos nossas ações, na expectativa de se cumprirem exatamente como pensamos. Assim, a infidelidade precisa ser olhada como qualquer outro sentimento, podendo estar presente em qualquer momento da relação. Se não a olharmos assim, estaremos correndo sério perigo, pois estaríamos alimentando-a inconscientemente quando a negamos. Quando a singularidade é madura, ou ao menos se escolhe por esse caminho, o respeito é parte integrante da relação. Então, o foco deixa de ser a infidelidade, mas o COMO proceder com ela. Mario Quintana em um dos seus brilhantes textos, diz que acha meio simplista e fora da realidade o conhecido sermão de casamento. De maneira criativa sugere alternâncias nas conhecidas pregações, alertando para que o diálogo ocorra de outra maneira: “Promete não deixar a paixão fazer de você uma pessoa controladora, e sim respeitar a individualidade do seu amado, lembrando sempre que ele não pertence a você e que está ao seu lado por livre e espontânea vontade”. Respeitar a individualidade não significa não ser infiel, mas ser fiel na infidelidade. Cada indivíduo tem o direito de escolher o próprio caminho, porém não tem o direito de esconder sua escolha do outro. Ou seja, a infidelidade é natural, por ser algo que pode acontecer a qualquer momento, porém deve ser compartilhada com o par caso exista.
Temos a liberdade de escolhermos caminhos diferentes em cada momento de nossa vida, estando ou não acompanhados. O sujeito maduro, fiel a si próprio e respeitoso ao outro, saberá como agir diante dessa possibilidade.

10. O que precisa para o sexo ser significativo e marcante pra você?


Intimidade e entrega, necessariamente nessa ordem. E, para que isso aconteça de fato, é necessário percorrer um longo caminho. E, nem todos têm essa disponibilidade. A intimidade verdadeira é aquela que permite reconhecer e compartilhar atributos subjetivos do outro, e não apenas parciais e/ou superficiais, mesmo sendo também importantes. Como dizia muito bem Roland Barthes: “É na conversa que o nosso verdadeiro corpo se mostra, não em sua nudez anatômica, mas em sua nudez poética”. Ou Adélia Prado que afirma: “Erótica é a alma”.
O sexo de torna significativo quando dois percorrem direções semelhantes, buscando estabelecer conexões mais profundas através do delicioso ato exercido pelo corpo. E, quando há esse prolongamento entre os amantes, a entrega se faz consumada no ato em si.

11.Quais suas melhores habilidades? O que de melhor tem a oferecer para uma mulher?
Talvez muito, ou muito pouco. Tenho a dimensão do que posso oferecer, porém isso não é garantia de que oferecerei. Tudo se faz na relação, no compartilhar. Nada pode ser medido previamente, apesar de existir em potencial. E, diante disso, acredito que posso oferecer minha real fidelidade aliado aos meus verdadeiros sentimentos, sejam considerados positivos ou negativos ao outro que os vê.

12. Qual a maior emoção que uma mulher despertou em vc? Qual o momento de maior abertura que teve com uma mulher?

Indubitavelmente a gravidez e o que dela prosseguiu... Mas o momento do parto e o conseqüente nascimento são indiscutíveis...



13. Qual a melhor experiência que teve em uma relação? O que não faria de novo?

Na verdade, apesar das falhas e acertos em algumas relações, não tenho nada que me arrependo terrivelmente. Vejo essas falhas como formas de amadurecer no momento em que aconteceram. Diria que hoje, após certas experiências, que caminho com mais calma, sem a necessidade urgente que caminhava anos atrás. Confio no caminho e creio que o melhor sempre acontecerá!


14. O que te faz homem?

A possibilidade de escolher meu próprio caminho. De me responsabilizar pelas minhas escolhas. De assumir meu propósito de existência. De reconhecer meus valores. De ser capaz de sempre recomeçar. De me considerar forte o bastante para superar os desafios naturais da vida. De fazer fluir o que sou, sem outras preocupações. De assumir minhas responsabilidades, como cidadão, pai, filho, amigo, trabalhador e outros papéis que vivencio.
Ademais, minha motivação consiste em minha capacidade de dar e receber, acolher e recolher, possibilitar e conquistar, viver e morrer, alternadamente, a todo instante.

15. Qual seu maior propósito de vida?

O autoconhecimento. Chegar a lugares que nunca cheguei, vislumbrar possibilidades outras, aventurar o novo toque, o novo jeito, o novo gesto. Como afirma Fernando Sabino:
“De tudo ficaram três coisas... 
A certeza de que estamos começando... 
A certeza de que é preciso continuar... 
A certeza de que podemos ser interrompidos 
antes de terminar... 
Façamos da interrupção um caminho novo... 
Da queda, um passo de dança... 
Do medo, uma escada... 
Do sonho, uma ponte... 
Da procura, um encontro!”

16. Se pudesse escrever algo para as mulheres ou para uma em especial, o que diria?

Putz! Digo para prosseguirem, confiarem e se renderem. Atualmente, as relações estão pendendo para uma disputa e não mais para a composição, para o compartilhar. Como coloca sabiamente Rubem Alves, os relacionamentos afetivos assemelham-se a uma partida de tênis, onde o único objetivo é vencer seu inimigo, sendo uma fonte de muita raiva e ressentimentos, terminando sempre mal. A bola, como representante simbólico de nossas fantasias e irrealidades, sob a forma de palavras, são cruelmente destruídos. Para as mulheres, e os homens, que querem realmente compartilhar, precisam transformar o relacionamento num jogo de frescobol. O objetivo é único e é necessária a participação de ambos, imbuídos com o mesmo fundamento, com o mesmo desejo. A falha do outro proporciona faz com que eu me esforce para devolver adequadamente para que o outro jogue novamente para mim. “Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre. O erro de um, no frescobol, é como ejaculação precoce: um acidente lamentável que não deveria ter acontecido, pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos...”



terça-feira, 16 de novembro de 2010

Homens reais - Anderson Fornazari



O sexto generoso entrevistado foi uma grata surpresa pela espontaneidade, lendo o blog por indicação ele se ofereceu para a entrevista. As respostas são simples e abertas, bem interessante a importância do bom humor estar presente na maioria delas e a que mais me chamou a atenção foi a da pergunta 3: "Corra pra onde for, com quem for, mas você é aí. E se na posição de zelador de si mesmo você não se bastar, o habitat vai sempre te parecer pequeno.”

Se mais alguém quiser conceder entrevista é só se manifestar, agradeço de verdade a boa vontade, exposição e consideração de todos esses homens reais que compartilharam aqui conteúdos deliciosamente interessantes, colaborando com a proposta e particularmente com o aumento do meu fascínio pelo universo masculino.



Nome: Anderson Fornazari

Idade: 32


1. Que tipo de mulher entende melhor os homens?

Mulheres maduras. O homem é tétrico para mulher, assim como a mulher é para nós, para haver um entendimento mútuo deve-se partir do pressuposto de que temos naturezas opostas. Os anseios, os medos, as necessidades de afirmação, quimicamente, somos muito diferentes. E essas oposições passam a ser harmônicas, ou seja, possibilitam uma relação, a medida que são encaradas não como um obstáculo, mas como uma condição. Só há amor quando há concessão. Talvez a melhor pergunta seja: “até onde vale a pena tentar entender os homens (e vice-versa)”? Há quem não queira entender, pois o não-ver pode ser conveniente, e há quem simplesmente não mereça o esforço de ser entendido.

2. Quais as características de uma mulher que você admire que melhor represente o feminino?

Muitas, mas muitas, as mulheres são seres privilegiados. Uma das representações mais deslumbrantes do feminino é a maternidade. Me encanto com mulheres que realmente sabem ser mães, com a facilidade que algumas têm de renunciar a tudo para exercerem seu papel de gestora, de porto-seguro. Da mesma forma, admiro o equilíbrio que algumas têm entre delicadeza-firmeza, insinuação-discrição, intensidade-calma e etc. Embora estejam sempre sujeitas a tsunamis hormonais, há conflitos que só a sensibilidade feminina é capaz de remediar.

3. Há alguma crença que vc tinha sobre as mulheres/relacionamentos e que está reavaliando atualmente?

Sim, e sempre haverá. Em relações passadas, costumava me envolver demais, no sentido de que em muitas delas acabei perdendo um pouco da individualidade, sem querer, quando via já tinha perdido o freio. Hoje, vejo o quanto o estar comigo mesmo é fundamental para o estar com alguém. Há algum tempo escrevi um texto que reflete bem essa minha evolução de pensamento.
Trecho: “Movimente-se sabendo que a geografia humana é cruel. Corra pra onde for, com quem for, mas você é aí. E se na posição de zelador de si mesmo você não se bastar, o habitat vai sempre te parecer pequeno.”
Para a relação ser melhor temos que dar o nosso melhor. E dar o nosso melhor significa estar bem, antes de tudo, sozinho.

4. O que os homens realmente querem?

Muito menos do que vocês mulheres imaginam, por isso prefiro dizer o que os homens não querem.
- Cuide do corpo sempre, mas não esqueça da cabeça. Mau-humor é mil vezes mais desestimulante que celulite.
- Seja feminina e delicada, mas mantenha sua fortaleza emocional em permanente construção.
-Nunca deixe que um homem confunda sua doçura com submissão. Mulher que diz sim pra tudo torna-se desinteressante.
- Quando nos distanciamos de vocês, não necessariamente estamos traindo-as com a Marcinha. Pode ser apenas uma arejada temporária. Em geral, preferimos resolver nossos conflitos sozinhos.

5. Onde você acha que os homens mais erram na hora da sedução? E onde acertam?

Acho que os erros acontecem sempre pelos mesmos motivos: inexperiência ou ansiedade. Quanto aos acertos, não há fórmula mágica, depende muito da circunstância. Há momentos em que ser gentil demais, por exemplo, não é tão bem-vindo. Acredito que o essencial é estar atento, ter sensibilidade para perceber que tipo de comportamento o momento exige. Se um dia eu tiver um filho, o aconselharei: “Antes de arrancar um beijo dela, arranque um sorriso”.

6. Onde você acha que as mulheres mais erram no relacionamento com os homens? E onde acertam?

As mulheres tem uma complexidade emocional muito diferente da dos homens. Nós somos mais simples, mais práticos. Exemplo: Quando há alguma mudança no nosso humor não demora nada pra que elas achem que estamos insatisfeitos com a relação. Na maioria das vezes, não passa de um estresse com o trabalho ou de um gol perdido no futebol com os amigos. Ciúme também é um problema grave, ele denota uma fragilidade repulsante. Embora aparentemos gostar da falsa idéia de que as mulheres são frágeis, a verdade é bem outra. Poucas coisas nos seduzem tanto quanto uma mulher que vez ou outra toma a rédea da situação e se impõe. Eis aí um acerto, fatal.

7. Quais as maiores confusões que vc vê na relação entre homens e mulheres? Como simplificá-las?

Ninguém, nem seu filho, nem seu estagiário e nem seu namorado vão agir como você agiria. Projetar suas expectativas sob uma relação, seja ela qual for, é o maior envenenamento que se pode cometer. Por mais que haja afinidades, haverá sempre discordâncias. O ideal é que ambos aceitem a verdade alheia e façam concessões. Por exemplo, ninguém acha o máximo ir as bodas de diamante da tia da namorada, mas se for importante pra ela, vá. E mais que isso: divirta-se. Ria do vestido da tia, do padre gago, do primo que dança desengonçado. O bom humor é o melhor Prozac e o melhor Viagra que conheço.

8. Casamento, morar junto, relacionamento aberto ou solterice? Por que?
Hoje, namorar. Mais que marido, juntado, amigado... da minha mulher quero ser namorado, é o melhor que uma relação pode me trazer. Há quem divida o mesmo espaço uma vida inteira mas não divide sequer metade de suas reais angústias. Há quem invista uma fortuna em uma cerimônia de casamento mas é incapaz de surpreender a parceira com uma rosa. Talvez esse meu conceito seja transitório. Até porque quero ser um velhinho bem-acompanhado. Mas enquanto isso não muda, quero namorar, muito.

9. O que você pensa sobre infidelidade?

Desejo todo mundo tem. Possibilidade de se sentir atraído por outra pessoa, idem. Mas há que se fazer uma conta, quase matemática. O quanto vale a pena, em troca de uma atração física por um desconhecido, colocar em risco uma relação sadia? Embora uma “traição” possa até ajudar a resgatar um relacionamento, no sentido de que pode recuperar a percepção de valor que ele tem, por outro lado abala-se uma estrutura fundamental, que é a cumplicidade. Desde que se tenha o mínimo de caráter, torna-se muitíssimo difícil olhar nos olhos da pessoa amada sabendo que há algo a esconder. Mas há quem consiga. Nesse caso, se a traição nunca for descoberta, ok. Pior que ser infiel é ser desleal. Trair a mulher com alguma amiga em comum ou, pior, traí-la na frente de amigos em comum, essa exposição é repugnante.
É imprescindível que se tenha sempre em mente que do outro lado há alguém comprometido com você, que confia em ti, e que uma decepção amorosa pode ter conseqüências extremamente profundas, há quem passe um vida inteira tentando se recompor.

10. O que precisa para o sexo ser significativo e marcante pra você?

O clichê é sempre dizer que é o amor, mas não é só isso. Pode-se amar intensamente alguém mas não necessariamente o sexo será bom, há algo de metafísico nessa sintonia sexual. Claro que os componentes amor e atração física são elementares. Mas há uma força que não pode ser medida, que se refere a sintonia, a uma harmonia escondida no porão da nossa carne, molecular. Tem a ver com o encontro de duas naturezas que devem prevalecer de modo que sejam plenamente compatíveis. Tendo isso, talvez esta seja, depois da concepção de um filho, a experiência física/espiritual mais sublime que há.

11.Quais suas melhores habilidades? O que de melhor tem a oferecer para uma mulher?

Ser simples, no sentido mais amplo da palavra. Não preciso de uma Torre Eiffel pra que minha noite seja inesquecível. Eu, ela, sentados numa guia, olhando pro céu, conversando sobre a vida, tá feito. Simples assim. A capacidade de tornar interessante algo que aos olhos da maioria é extremamente comum talvez seja a habilidade mais encantadora que se pode ter. Eu tento.

12. Qual a maior emoção que uma mulher despertou em vc? Qual o momento de maior abertura que teve com uma mulher?

A maior emoção é sempre advinda de um momento de entrega absoluta. Consegui isso algumas vezes em situações distintas, conversando, fazendo amor, olhando em silêncio nos olhos. Todas elas foram permeadas por um elemento em comum: a cumplicidade. Com ela, dois viram um. E é com essa unidade que se consegue atingir o nirvana de uma relação.

13. Qual a melhor experiência que teve em uma relação? O que não faria de novo?

Melhor: cumplicidade absoluta.
Espero não fazer de novo: permitir que alguém se apodere da minha individualidade.

14. O que te faz homem?

Minha filha e minha mulher.

15. Qual seu maior propósito de vida?

Ser justo comigo e com os que me cercam. Ah, e me divertir, muito.

16. Se pudesse escrever algo para as mulheres ou para uma em especial, o que diria?

Ei, você aí, amo-te. Mesmo.


quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Homens reais - Moacyr de Freitas




O quinto generoso entrevistado é mais um querido amigo recente que me surpreendeu ao enviar a entrevista, fiquei muito contente com sua dedicação. As respostas são muito maduras, reflexivas, profundas, a que mais me chamou a atenção foi da pergunta 11: "Numa palavra, o que de melhor desejo oferecer a alguém é a boa vontade."

P.S: Se algum outro generoso homem quiser enviar sua entrevista ainda é possível até o fim de Outubro, caso contrário encerramos com o "quinto elemento" e logo mais continuamos com as "mulheres reais."
Minha gratidão a todos que com sua boa vontade e dedicação se expuseram e compartilharam, vocês me deram a alegria de conseguir publicar essa sincera proposta de reflexão.


Nome: José Moacyr Freitas de Araujo
Idade: 58 a 3 m 3 semanas

1. Que tipo de mulher melhor entende os homens?

O tipo de mulher que melhor entende os homens é mulher segura, que não precisa competir com eles nas funções, em todas as facetas do mundo, quer seja nos campos social, profissional, e até familiar. Por entender os homens sabe que têm funções diferentes, complementares muitas vezes e sabe que o melhor da vida é agregar e não segregar.

2. Quais as características de uma mulher que você admire que melhor represente o feminino?

Admiro a mulher que consegue manter a feminilidade, não fragilidade ou manipulações. Se impõe como pessoa, não como fêmea pseudo poderosa, que instila inveja àquelas pessoas que valorizam mais a forma que o conteúdo. Isso tudo acaba sendo tão vazio, artificial.
Tive exemplo de duas mulheres, em trabalho anterior, uma loira, bonita, bem resolvida financeiramente, “estilo madame”. Outra bem magrinha, sem beleza digna de nota, olhar sem muita expressão até a hora de falar.
Na expressão de um observador, a loira apresentava uma beleza “marmórea”, fria, distante, gélida como uma estátua, arrogante, sem qualquer atrativo; precisava de um rótulo para se afirmar. Enquanto que a magrinha, ao se expressar mostrava tanta vida, comentários espontâneos, risos simpáticos e seguros, que chegou a monopolizar a atenção de vários marmanjos ao mesmo tempo, que ficaram de boca aberta. Por isso, para uma mulher realmente ser digna de admiração, é preciso mostrar a alma, não o decote ou pernas.
Um exemplo é a cantora Candice Night do grupo Blackmore’s Night, particularmente no DVD – Concerto de Burg Boldenstein em 2004, gravado em frente a um castelo na Alemanha. Um show de mulher, não só pela beleza e leveza, simpatia e carisma, mas pela postura pessoal. Ela sabe que faz parte do grupo, chama a atenção para si quando vai desempenhar, sai de cena quando é hora para que outros brilhem também, não quer o foco só para ela, mantém a atenção do público enquanto a equipe técnica ainda não está pronta para a sequência do show, dá bronca e critica quando necessário, excelente profissional e uma simpatia como pessoa.

3. Há alguma crença que vc tinha sobre as mulheres/relacionamentos e que está reavaliando atualmente?

Antes eu era mais ingênuo, acreditava mais na espontaneidade de todos, na boa vontade,... Hoje vejo que existe muito ”querer controlar” um ao outro, e quando não se consegue, começa a competição, o que vejo como grande tolice. Isso tudo é tão cansativo, chato, estúpido, infrutífero, desnecessário...
Face às mudanças no mundo após guerra, as mulheres conquistaram mais espaço na sociedade, o que é extremamente importante, mas perderam tanto ao querer se igualar aos homens, e pior que isso, muitas acham que tem que suplantá-los “na porrada”.
Claro que havia, e ainda há, muita injustiça, desigualdade, era mister haver mudanças. Hoje não competem só com os homens. Elas o fazem entre si.
Mulheres, normalmente, se vestem para outras mulheres e não para os homens. Observam e criticam de modo destrutivo. Segundo consenso entre os grupos que me são mais próximos: os homens, hoje, são muito mais românticos, amigos, prestativos, solidários que as mulheres. Isso pode ser observado no trânsito com facilidade.
Creio que os relacionamentos devem ser francos, espontâneos, sem que um lado queira levar vantagem sobre o outro. Se estão de um mesmo lado, para que tentar suplantar? Orgulho,? Vaidade? Egoísmo? Talvez só insegurança...
Olhando BEM DE PERTO, isso só mostra fraqueza, insegurança, imaturidade. Quem está seguro, ciente do que quer, gosta e faz, não tem que provar nada para ninguém. Está estável, sereno, equilibrado.
Respeito, cumplicidade, cortesia, colaboração, cordialidade, gentilezas também são muito importantes. O principal é fazer ao outro aquilo de bom que desejo para mim mesmo, e não fazer o que não gostaria que me fizessem.
Continuo apaixonado por mulheres, apesar disso tudo.

4. O que os homens realmente querem?

Numa entrevista à Folha de São Paulo, a uma “empresária da noite” afirmou que os homens são tão fáceis de se lidar, basta dar atenção, carinho que eles (nós) derretem e ficam caseiros. O sexo, em um relacionamento, é apenas uma maneira de troca de afeto. A troca de secreções é detalhe técnico, é conseqüência que pode ou não estar presente.
Claro que nessa visão empresarial citada acima, se dá com uma mão e tira com a outra, negócios são negócios. O que os homens querem, na minha opinião, é se sentirem como parte de algo, de um relacionamento com troca, não com alternância de imposições. Verdade profunda na letra da música que expõe: “você insiste em zero a zero, e eu quero um a um”... pelo menos.

5. Onde você acha que os homens mais erram na hora da sedução? Onde você acha que as mulheres mais erram no relacionamento com os homens? E onde acertam?

Temos dois enfoques sobre erros: hora de sedução e relacionamento.
Se a sedução for apenas uma competição de desempenho ou egoísmo, independentemente de ser homem ou mulher, um querer controlar ao outro, mera aplicação de técnicas sensuais apenas para mostrar como domina ao corpo da outra pessoa, não passa de atividade física, parcialmente satisfatória, e que deixa um nada, depois, comparado ao gosto de cabo de guarda-chuva.
O erro é querer um usar o outro.
O acerto é um se importar com o outro, mesmo numa relação fortuita e fugaz.

7. Quais as maiores confusões que vc vê na relação entre homens e mulheres? Como simplificá-las?

A maior confusão é entrar numa relação sem conhecer a outra pessoa. É se interessar pela imagem que faz da outra pessoa, não necessariamente pela outra pessoa. Há muita fantasia e tentativa de mudar ao outro. “Quero você como eu quero, ... Deixa essa bermuda que eu quero você sério,... Solos de guitarra não vão me conquistar,...” Claro que, com a relação, ambos tem a possibilidade de crescer, amadurecer e até perceber como pode mudar para melhorar. Talvez uma das partes possa ter caminhado um pouco mais que a outra, daí vêm o companheirismo, a cumplicidade, o dar a mão para andarem lado a lado. Nem atrás, nem à frente, mas parceiros.
Claro que é preciso que haja uma seletividade, não conceitos pré-estabelecidos, e não entrar de cabeça só por achar alguém atraente. Quantas confusões ocorrem por entrar em um relacionamento com “pendências mal resolvidas de outros anteriores” ou então, ficar insistindo em manter “fantasmas”, mesmo quando se tem certeza que a relação já findou.
Como uma expressão ouvida, tempos atrás: “Resolveu enterrar o(a) defunto(a).” De forma mais agressiva, “Quantos(as) viúvos(as) de ex-cônjuges vivos.”
A maior simplicidade é a sinceridade.

8. Casamento, morar junto, relacionamento aberto ou solterice? Por que?

Casamento, namoro, relacionamento não é precisar de alguém para ser feliz. O(a) outro(a) convalida minha satisfação comigo mesmo. É minha testemunha. É, antes de tudo, estar bem, feliz, equilibrado, sereno e querer compartilhar essa sensação com a outra pessoa. É opção.
Casamento é união, troca, parceria, é gostar de estar em companhia da outra pessoa. É querer voltar logo para casa para encontrar a outra pessoa.
Morar junto não é diferente de casamento, apenas uma formalidade social é que não foi cumprida. Aliás, as formalidades sociais são imposições que a sociedade faz para que ela própria continue existindo. A necessidade não é do casal e sim do grupo social.
Lembremos sempre que há pessoas que não respeitam os direitos do outro, e algumas leis tentam garantir os direitos para que pessoas não saiam com dificuldade de subsistência, principalmente quando existem menores de idade.
Relacionamento aberto é opção, mas quem realmente ama ao outro não precisa de complementos, mesmo se o outro não for perfeito e completo (como ninguém o é), MAS a grande pergunta pode ser: aquilo que desejo, e a outra pessoa não tem, realmente é imprescindível? Faz tanta falta assim? Ou é apenas meu egoísmo?
O importante é cada um dar o melhor de si, sempre. Caso isso seja pouco para a outra pessoa, não baste ou não atenda ao mínimo desejável, será que vale à pena continuar com o relacionamento meia-boca, só para ter algum relacionamento?
Sofrer-a-dois é melhor que ser feliz sozinho? Ser feliz é mais importante. Sozinho mas não solitário!!!
A solteirice é legal, é opção interessante, mas ela acontece por opção ou por medo de relacionamentos / responsabilidades?
Não deve ser por causa da outra pessoa, que possa ou não vir a atender aos anseios, mas TENHO QUE ESTAR BEM COMIGO MESMO, sempre! Estar com alguém é opção, para testemunhar minha felicidade, não por ser alguém que complete minha parte vazia porque eu não consigo fazê-lo sozinho!

9. O que você pensa de infidelidade?

Existe infidelidade tanto quanto existe perda de amizade. Amigos não se perdem. Caso a amizade tenha acabado, por qualquer que tenha sido o motivo, é porque não era amizade verdadeira.
Quando uma pessoa trai a confiança da outra, ela trai a si mesmo, não à outra. O que ocorre é falta de respeito, por si e pelo outro. Quando realmente se está com uma pessoa, inteiramente, não sobra espaço para interesses fortuitos, “galinhagem”. Principalmente, quando se importa com a outra pessoa, a ultima coisa que se deseja é magoar, magoar profundamente.
Caso haja infidelidade, é, em grande parte dos casos, por imaturidade no relacionamento, insegurança, insatisfação que uma parte impinge à outra. Tantas vezes, é uma maneira de estragar tudo por medo se envolver, de se entregar. Vejo isso como exceção, não como regra. É no fundo uma grande imbecilidade. Magoar intencionalmente a quem se ama só por luxúria é insensato, é burrice. Quem magoa intencionalmente à outra pessoa, está no fundo, fazendo um grande favor, pois está liberando à outra pessoa de um grande traste, não está mais desperdiçando o tempo da outra pessoa. É preciso ter olhos de ver, e compreender o que há de positivo, mesmo em situações desagradáveis.
Tudo é benção da Providência divina, mas nem tudo é agradável.
Quando se está satisfeito não há porque procurar estragar o que está indo bem. Não é lógico. O modo de pensar do homem é racional e lógico, não que seja melhor ou pior, é diferente.
Por outro lado, temos muito mais dificuldade de nos expressarmos emocionalmente que as mulheres.

10. O que precisa pro sexo ser significativo e marcante pra você?

O sexo não pode ser com um chiclete docinho no início e logo perde a doçura. Daí fica só a borracha.
Precisa haver troca, envolvimento, muito carinho, atenção, cortesia, mesmo que numa relação fortuita. O que marca é buscar envolver a outra pessoa de modo que ela se sinta bem quista e não usada por egoísmo, é buscar a satisfação da parceira antes da própria. Não é preocupação com desempenho. É atenção. Isso me é marcante.

11. Quais suas melhores habilidades? O que de melhor tem a oferecer para uma mulher?
Não me sinto habilidoso, preciso me sentir à vontade, quando tenho interesse em alguma mulher, e isso não é, para mim, uso de técnicas especiais. Com pessoas diferentes, o comportamento é diferente. É mais gostoso quando se consegue manter o bom humor, a boa vontade, a cortesia, a gentileza, a atenção plena, a sinceridade, a espontaneidade, a cooperação, a troca de idéias... É estar junto, não ao mesmo tempo. Isso faz toda a diferença, sempre.
Numa palavra, o que de melhor desejo oferecer a alguém é a boa vontade.

12. Qual a maior emoção que uma mulher despertou em vc? Qual o momento de maior abertura que teve com uma mulher?

A maior emoção está para ser vivida. Tive muitas emoções boas, momentos bons.
O maior momento de abertura foi quando me doei e fui retribuído, é o incomensurável prazer de dar, é conseguir compartilhar a linguagem do coração. É a troca, que não precisa ser de mesma intensidade, pois pessoas são diferentes.

14. O que te faz homem?

É me sentir gente, humano, parceiro.

16. Se pudesse escrever algo para as mulheres ou para uma em especial, o que diria?

Por favor, sejam mulheres! Femininas, sensíveis ...

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Homens reais - Rodrigo Cardoso



O quarto generoso entrevistado é um amigo recente que parece que conheço há anos! Ele deu vários feedbacks sobre a entrevista e achei bem bacana que tenha agregado os comentários as perguntas. As respostas são profundas, uma das que mais chamou minha atenção é a da pergunta 07: "A beleza é que, com essa prontidão de ambos, conforme a relação vai se tornando mais e mais complexa, os amantes vão se tornando mais e mais maduros e plenos!"
P.S: Aguardo mais um quinto generoso elemento para ser o último entrevistado masculino! ;-)

Nome: Rodrigo Cardoso
Idade: 36
1. Que tipo de mulher entende melhor os homens?
 Não acredito em "tipos" e nem em generalizar os homens, como se todos fossem iguais, então vou falar de um contexto que considero fértil pra que uma mulher possa me entender: Ela precisa se esvaziar de todo e qualquer conceito que tem sobre “homens” em geral e sobre a minha pessoa em particular, e se propor a me escutar sem avaliações e julgamentos. Quando digo escutar, entenda-se principalmente ler nas entrelinhas, ou seja, menos o que está sendo dito em palavras e mais o que está sendo expresso corporalmente, pelo olhar e comporta-mental-mente.


2. Quais as características de uma mulher que você admire que melhor represente o feminino?
Abertura, aceitação, entrega. Sensualidade, qualidade de presença, capacidade de doação e de cuidado amoroso. Admiro também o arquétipo da guerreira, que vai a luta e protagoniza o próprio destino.


3. Há alguma crença que vc tinha sobre as mulheres/relacionamentos e que está reavaliando atualmente?
Quando eu era criança, acreditava que as mulheres eram ou fadas ou bruxas... hoje percebo que elas são fadas e bruxas! Outra crença que alimentei por muitos anos é a da ‘alma gêmea’... tanto que escrevi há uns anos um poeminha endereçado pra tal...
A Cara Metade
Não sei se essa ânsia de te encontrar
talvez provinda do enorme vazio de ser,
me faz melhor ou me afasta de você...
...da possibilidade de te re-encontrar.
Onde você está?
Será que ainda me espera?
Será que já cruzamos os olhares
no vazio orbitar das esferas?
Hoje, porém, procuro não acreditar nem duvidar. E, pra me curar, procuro não procurar.


4. O que os homens realmente querem?
Posso te dizer o que eu quero e jamais o que os homens querem, pois cada ser é único...
Bom, o meu querer muda tanto que qualquer coisa que eu possa escrever aqui-agora, talvez já não se aplique no aqui-agora que você estiver lendo, mas vamos lá: quero construir uma relação-a-dois baseada na cumplicidade e confiança, que seja leve e eleve. Bem humorada, mas sem fugir das sombras e conflitos. Também apimentada com paixão, tesão e aventura. Quero uma relação equilibrada no sentido de ser cultivada e cuidada igualmente por ambos.


5. Onde você acha que os homens mais erram na hora da sedução? E onde acertam?
Quem são “os homens”? (homens em geral, com que convive ou observa)
Eu acerto* quando sou ousado e quando aceito meus erros* (pois assim, uso-os a meu favor). Chamo de ousadia, vencer o medo de tentar e se dar mal, de parecer ridículo... Encontrar forças apesar do medo vaidoso, para demonstrar interesse de forma criativa/positiva e com bom humor... buscando a clareza de ver como tocar o coração daquela pessoa em especial, naquele contexto único, sem recorrer a fórmulas.
É preciso também ter a sabedoria do momento de tirar o time de campo... fazer o que está ao seu alcance e então, entregar pro universo...
*(Não gosto de pensar em termos de “erros” e “acertos”, pois na minha opinião, limita muito a nossa visão, como se apenas existisse o preto e o branco e assim, perdemos de vista todo o esplendor do arco-íris e o espectro sem fim de cores intermediarias...)


6. Onde você acha que as mulheres mais erram no relacionamento com os homens? E onde acertam?
Cada caso é um caso. Como já disse, não existe relacionamento entre “homens” e “mulheres” e sim entre um determinado ser e outro determinado ser (seja homem/mulher, homem/homem ou mulher/mulher) e suas infinitas possibilidades de interações. Então, na minha opinião, o erro* ( implícito na pergunta) está exatamente em generalizar.
Tanto mulheres, quanto homens tendem a cair na mesma armadilha: A projeção. Vemos no outro a nossa própria sombra projetada. E costumamos apontar o dedo pra algo que nos incomoda no outro, sem perceber que estamos falando de algo nosso, que foi escondido nos porões na nossa (in)consciência... No fim, a maioria de nós, sem perceber, se relaciona muito mais consigo mesmo (através do outro) e poucas vezes enxerga realmente a pessoa amada.


7. Quais as maiores confusões que vc vê na relação entre homens e mulheres? Como simplificá-las?
Leia a resposta anterior. E pra simplificar, talvez reconhecer e aceitar a imensa complexidade implícita no relacionar-se. Quando digo aceitar, não significa se colocar numa atitude passiva e fatalista, e sim lidar com a realidade tal como ela é, sem tentar simplificar uma coisa que não é simples... assim podemos aprender a conviver da melhor forma possível com tudo o que emergir da relação para crescermos juntos.
A beleza é que, com essa prontidão de ambos, conforme a relação vai se tornando mais e mais complexa, os amantes vão se tornando mais e mais maduros e plenos!


8. Casamento, morar junto, relacionamento aberto ou solterice? Por que?
Casamento, morar junto, relacionamento aberto e solterice... ambos têm o seu momento. No meu momento atual, estou buscando algo novo, que provavelmente desafie o status quo: Seria algo como um relacionar-se abertamente em casas separadas. E por que? Porque já vivi alguns casamentos e percebi que a minha natureza gosta de um equilíbrio saudável entre a intimidade e privacidade... Entre o espaço comum, e o meu espaço... Entre as trocas e o recolhimento, etc


9. O que você pensa sobre infidelidade?
Primeiro você precisaria definir fidelidade... Ser fiel a quem? À minha natureza? Ás expectativas do outro? (...)
Pra mim, ser fiel é seguir a verdade interior e conseqüentemente participar ao par meus intentos e minhas escolhas – de forma sincera e transparente. (Muito embora eu possa tranqüilamente optar por viver uma relação em que se tem um acordo de não sair com outras pessoas. Só não tenho convicção se a longo prazo isso é saudável pra própria relação). Creio que a questão central aqui é a liberdade e autonomia para se fazer escolhas. Quando temos maturidade e estamos amando e realmente envolvidos, é natural não ter vontade de sair com outrem... a coisa simplesmente flui assim... nada precisa ser combinado. Por outro lado, quando há o temor, é porque falta algum ou alguns desses componentes – amor, maturidade, envolvimento – e, neste caso, considero improdutivo pra relação, qualquer acordo baseado na insegurança.


10. O que precisa para o sexo ser significativo e marcante pra você?
Antes de tudo, amor! A partir daí, tudo flui: Química, pele, cheiro... É preciso uma escuta atenta pra sincronizar os ritmos e os dois corpos dançarem como um só e as energias se fundirem e pulsarem juntas numa espiral ascendente... Só aí, cria-se uma situação propícia para êxtases luminosos a dois e a dissolução oceânica ou expansão da consciência.


11.Quais suas melhores habilidades? O que de melhor tem a oferecer para uma mulher?
Creio que a minha melhor habilidade é a abertura para o diálogo. Ofereço uma escuta atenta, e o olhar que procura ver a essência por trás das aparências.


12. Qual a maior emoção que uma mulher despertou em vc? Qual o momento de maior abertura que teve com uma mulher?
Já tive algumas catarses de choro primal durante o orgasmo, que foram momentos inesquecíveis! Mas sem sombra de dúvida, o parto da minha segunda filha (não por acaso chamada Vida), foi a um só tempo, o momento de maior abertura e a maior emoção vivida nesta vida! Eterna gratidão a essa três mulheres que me propiciaram isso: Dani (mãe), Vida (filha) e Dra. Betina (obstetra de partos naturais)!!!


13. Qual a melhor experiência que teve em uma relação? O que não faria de novo?
A melhor experiência: - um Samadhi ou Nirvana a dois.
Espero não fazer de novo: Trocas de acusações e agressividades gratuitas.


14. O que te faz homem?
O que me faz homem: O culto ao feminino.


15. Qual seu maior propósito de vida?
Viver cada instante com a plenitude do meu Ser.


16. Se pudesse escrever algo para as mulheres ou para uma em especial, o que diria?
Como assim, se eu pudesse!? Eu posso! ...E o farei em forma de poesia:
PARTIDAS E CHEGADAS
Meu coração é um porto
pessoas vêm e vão
A despedida é sempre triste
mas nada é em vão
Depois do inverno vem a primavera
e com ela a bonança
E desabrocha a esperança
na quimera de um oceânico verão
As ondas oscilam no eterno movimento
de permanecerem onde estão
Assim também em nós - dor e prazer
se alternam no oceânicoração
Confesso não ter superado minha última perda
mas o tempo é patrão
E, como tal, afobado, sem ter me consultado
trouxe nova embarcação
Nas águas do tempo
algumas pessoas ficam mais
outras, meia estação
Assim é a vida:
O coração se despedaça em cada despedida
mas nunca em vão
E a dor da saudade nos convida a uma nova vida
Vai-se a ferida, fica a gratidão!