sexta-feira, 5 de junho de 2009

Inverno

"No meio da amargura e do ressentimento, vislumbramos a possibilidade da maitri. Ouvimos um choro de criança ou sentimos o cheiro do pão que alguém está assando. Sentimos o frescor do ar ou vemos a primeira flor brotar na primavera. Apesar de nós mesmos, somos despertados pela beleza, em nosso próprio quintal." Quando tudo se desfaz - Pema Chodron


Chega o inverno
O outono vem acontecendo aos poucos, a troca das folhas, a exposição nua e crua dos galhos
É hora de recolher-se na casa escura com apenas uma lareira acesa
E sentar a sala com os velhos medos, as velhas crenças
Abandonar o sentimento infantil de desamparo
Pela força real da mulher que se tornou
Dar as mãos as cicatrizes e tê-las como boas companhias
Abraçar as lembranças, guardar as referências e superá-las

Respirar a plenos pulmões a alegria e a dor
Levantar a cabeça, abrir o peito
Abrir o peito de novo, de novo, de novo
Incansavelmente, persistentemente
Como a cabra mítica que te rege
Pois hoje o valor está mais no vivido do que no acerto
Na medida em que não se tem culpa pelo que se é

Apropriar-se das escolhas com os devidos preços pagos
E não há rancor
Apropriar-se da força interminável de caráter
E não há ressentimento que sobreviva
Apropriar-se da dor do olhar que não recebeu
E te olhas ainda mais e a fundo e estás de acordo

Dessa forma, aceitas as condições reais do viver
A natureza do sonho e a sedução da ilusão
Desperta, levanta e anda no dia presente
É a única coisa que tens
E (respiro leve e profundamente, enquanto cai uma lágrima)
De nada mais necessitas.




Um comentário:

André Lasak disse...

Nada como um bom texto para esquentar nesse friozinho, hehehe.

BEIJÃO!