sábado, 19 de julho de 2008

Na Natureza selvagem



"E também sei como é importante na vida não necessariamente ser forte
mas sentir-se forte
Confrontar-se ao menos uma vez
Achar-se ao menos uma vez na mais antiga condição humana
Enfrentar a pedra surda e cega a sós sem outra ajuda além das próprias mãos e cabeça"

Into the wild

O filme "Na natureza selvagem" mexeu muito comigo. Não ia escrever sobre ele porque as facetas são tantas que me senti inapta para desenvolver em palavras. Então ouso escrever com material volátil que são minhas sensações e um tanto mais refinado que são minhas experiências.

Entendo as sombra de Chris. Entendo a rebeldia, a raiva, a dor que ele carrega e os extremos a que ele se propõe. Por ter vivenciado algumas boas vezes na vida a importância da ousadia, entendo cada lágrima da primeira vez que ele viu animais no Alasca ou quando cravou em madeira sua história. Por entender e me conectar com elas, foi possível olhar o filme além da empolgação quase "adolescente" de queimar dinheiro ou sair pelo mundo, pois o que move essa história está além das aventuras radicais e fascinates que ela contém.

Quando nos falta alguma coisa parece que na mesma medida somos preenchidos por aquilo, mas buscamos a falta e não o contato com o que já temos. Na medida em que Chris segue sua jornada, o que realmente o nutre não é o apenas o que surge em sua solidão, mas principalmente o que ele compartilha. Até porque só é possível compartilhar de dentro de uma profunda solidão, como a solidão só pode ser nutrida por um profundo compartilhar.
Pois chega o derradeiro momento em que temos que compartilhar dessa água contid em nossa profundidade, senão nada faz sentido.
Para isso, muitos momentos de confronto "seco" consigo mesmo podem ser necessários.

Acima de tudo creio que o que nos salva é um bom coração e que o temos sempre a disposição seja qual for a sombra que nos acompanhe. Muitas vezes precisamos chegar ao extremo para perceber coisas importantes, outras percebemos observando os erros alheios, lendo um livro, assistindo um filme, mas hoje penso que os aprendizados mais significativos são fruto de vivência direta e que isso realmente transforma nossa visão. E com um coração aberto podemos experimentar o que tem um sentido mais profundo para a nossa vida.

Talvez isso nos desconcerte e fascine no filme: esse cara experimentou! Esse cara incomoda a partir disso e na mesma intensidade sua lógica anárquica nos atrai. O que confronta nossas "zonas de conforto" nos desafia, o que vai contra a "coerência" de algo que não acreditamos mesmo que queiramos sustentar, nos perturba. Porque seguimos em busca daquilo que não tem coerência alguma em forma. Buscamos mesmo é a incoerência daquilo que tem em nós um sentido mais profundo, mesmo que pareça loucura aos olhos do mundo.
Pois no fundo, queremos muito mais do que apenas aventuras para contar, coisas para mostrar, aparências que nos dêem um alto grau de aceitação. Somos ousados por natureza, uma ousadia tão grandiosa que não nos aquietamos até sentirmos que fomos além de nós mesmos.

"A felicidade só é verdadeira quando compartilhada."

Por último, falo sobre a Natureza, impossível subestimar sua beleza e força. Os orientais têm essa sabedoria muito mais integrada do que nós e quem já se atirou de alguma forma ao contato profundo com ela pode compreender do que falo. A Natureza é um mestre muito simples e muito poderoso, destrói qualquer ilusão de superioridade que se tenha. Sábios são os que se submetem com humildade, que respeitam os próprios limites diante de Sua grandeza e sabem reverenciar Sua força. Tolos os que pensam que têm todo controle dentro de uma floresta, um oceano ou céu. Estar de espírito aberto, presente e conectado com alguma forma de Natureza é um êxtase sem palavras, olhar nos olhos de um animal selvagem, uma experiência muito emocionante. Como se fosse um espelho reluzente que nos refletisse por dentro, do avesso.

Por acreditar que a natureza humana seja algo tão precioso e amplo, esse filme mexeu comigo.
Talvez seja essa a mesma razão que nos faça negá-la, temê-la e que nos fascine tanto...



"Há um tal prazer nos bosques inexplorados,
Há uma tal beleza na solitária praia,
Há uma sociedade que ninguém invade
Perto do mar profundo e da música do seu bramir
Não que ame menos o homem
Mas amo mais a Natureza"

Lord Byron




3 comentários:

Anônimo disse...

Bonito texto, creio que concordo contigo quase 100%.
Esse filme dá uma lição que não conforta, pelo contrário, instiga a pensar até que ponto fugir do mundo, por mais corrupto que ele seja, não é fugir de si mesmo.
Creio que ele se deu conta disso afinal, no ônibus, quando percebeu que o amor verdadeiro é o amor compartilhado.
Pena que não deu tempo de aproveitar o verdadeiro insight que ele estava procurando. Ao menos morreu feliz...
É de chorar...

Legal teu blog, da uma passada no meu lá

http://nascavernas.blogspot.com

Abraço

Ander disse...

Ótima reflexão. Há uns dias assisti "O Homem Urso", de Werner Herzog.

Sugere uma reflexão similar, muito embora seja um documentário e o protagonista seja bem diferente do Chris. A busca do externo incodicionalmente nos leva a um encontro interno.

beijo

Alê Marcuzzi disse...

Grata pelos comentários! Anderanso grata pela dica, vou assistir esse filme.

Namastê