segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dia do nascimento


"Sob as árvores da infância, altíssimas, passearemos.
As de formigas ruivas nas raízes expostas,
de resinas e cascas de cigarras, nos rugosos troncos,
de ventos, frutos, estrelas claras nos móveis frondes.

Passearemos sob as altíssimas árvores da infância,
pisando com silenciosos pés o chão - no entanto, de folhas secas,
fruindo com sabedoria o passeio, sem origem nem finalidade,
vivendo o instante de alegria das almas felizes reencontradas.

Sob as altíssimas árvores da infância passearemos
O nosso conhecimento está fora de quaisquer acasos.
Jamais saberíeis pronunciar o nome que atualmente uso.
O rosto que levamos nada tem com os acontecimentos.

Ah! Somente as árvores da infância, altíssimas, nos reunem agora:
houve um tempo anterior, de luz, de cristal, de pureza, de afeto?
Quem quer que sejamos, só nos entendemos por essas auréolas
que pairam sobre nós, translúcidas, fluidas, hesitantes a brisa."

Cecília Meireles


Nesses dias de janeiro

Me comove a criança que corre pela sala sem pensar no que dizem os adultos
Me comove olhar o pezinho do bebê
O gato que ronrona com um cafuné
O cheiro da flor aberta e viçosa
O céu com pequenos pontos luminosos e o vento fresco da noite de calor
A chuva forte com seus trovões barulhentos
A lua cheia vista da cama com a janela aberta
Me comove olhar a cicatriz no peito da minha mãe
Me comove o amigo fazendo sinal da cruz antes de jantar uma pizza
Me comove o chef de cozinha colocando a hortelã pequenininha em cima de uma rodela de
laranja
As formigas em fila levando nas costas não sei quantas vezes o próprio peso
A cigarra gritando até morrer



P.S: Dedico a memória da Vó Iolanda, Vô Ângelo, Vó Maria, Vô Manuel.
Dedico a minha mãe e meu pai.
O amor que tenho por todos vocês é vosso, como é só de vocês o meu aniversário.

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