quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Sobre a vida




"When I die, I'll fly with angels
And when I die to the angels
What I shall become you cannot imagine"

Rumi - poeta persa

Influenciada por gente comum como eu, frases de grandes personalidades, filmes (especificamente "O curioso caso de Benjamin Button"), crônicas de jornal, observação, fatos, tenho pensando sobre a vida enquanto vivo. Num mês em que a idade mudou, como um placar de partida de futebol ou a hora no relógio, me pego pensando sobre o tempo.
Filosofia rasa a minha, mas reflexões importantes têm acontecido. Nunca tive problema em envelhecer mas hoje em dia queria ter uma outra idade pra quantidade de coisas que tenho descoberto que quero fazer.
A ilusão de tempo me barra, parece que não terei tempo de fazer tudo isso que quero, pra muita coisa não tenho mais idade e que as coisas estão acontecendo muito rapidamente e minha criança-adolescente interior não acompanha.
Não queria ter meus vinte e poucos anos, mas trinta pra começar. Trinta tava bom pra tudo isso que amadureceu dentro de mim. Trinta anos e ... start the game!

Mas percebo que a ironia, brincadeira, sabedoria da vida é exatamente essa. Não importa de que ponto, todo dia é dia de dar o start. Todo dia é dia de se apropriar com muito amor da liberdade que nos foi dada desde o nosso nascimento: escolher a cada momento, brincar com o tempo, dançar a impermanência, se soltar de tantas e tantas identidades num vôo livre sobre o precipício.
Todo dia não somos mais os mesmos e ainda assim novos, somos únicos cada um a seu tempo, cada um a sua alma.


P.S: Dedico a todos os olhares que passam por aqui.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

História Universal

"Nunca soubemos
amar em pleno vôo
como as andorinhas

que no auge do prazer
pairam e se absorvem
no antídoto dos instantes.

Então escolhemos
em vez do coito
(viveiro de constelações)

lágrimas nos olhos
e um banquete de asas."

Antônio Mariano

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Dia do nascimento


"Sob as árvores da infância, altíssimas, passearemos.
As de formigas ruivas nas raízes expostas,
de resinas e cascas de cigarras, nos rugosos troncos,
de ventos, frutos, estrelas claras nos móveis frondes.

Passearemos sob as altíssimas árvores da infância,
pisando com silenciosos pés o chão - no entanto, de folhas secas,
fruindo com sabedoria o passeio, sem origem nem finalidade,
vivendo o instante de alegria das almas felizes reencontradas.

Sob as altíssimas árvores da infância passearemos
O nosso conhecimento está fora de quaisquer acasos.
Jamais saberíeis pronunciar o nome que atualmente uso.
O rosto que levamos nada tem com os acontecimentos.

Ah! Somente as árvores da infância, altíssimas, nos reunem agora:
houve um tempo anterior, de luz, de cristal, de pureza, de afeto?
Quem quer que sejamos, só nos entendemos por essas auréolas
que pairam sobre nós, translúcidas, fluidas, hesitantes a brisa."

Cecília Meireles


Nesses dias de janeiro

Me comove a criança que corre pela sala sem pensar no que dizem os adultos
Me comove olhar o pezinho do bebê
O gato que ronrona com um cafuné
O cheiro da flor aberta e viçosa
O céu com pequenos pontos luminosos e o vento fresco da noite de calor
A chuva forte com seus trovões barulhentos
A lua cheia vista da cama com a janela aberta
Me comove olhar a cicatriz no peito da minha mãe
Me comove o amigo fazendo sinal da cruz antes de jantar uma pizza
Me comove o chef de cozinha colocando a hortelã pequenininha em cima de uma rodela de
laranja
As formigas em fila levando nas costas não sei quantas vezes o próprio peso
A cigarra gritando até morrer



P.S: Dedico a memória da Vó Iolanda, Vô Ângelo, Vó Maria, Vô Manuel.
Dedico a minha mãe e meu pai.
O amor que tenho por todos vocês é vosso, como é só de vocês o meu aniversário.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

2009




"Ainda ontem pensava que não era

mais do que um fragmento trémulo

sem ritmo na esfera da vida.


Hoje sei que sou eu a esfera,

e a vida inteira em fragmentos rítmicos move-se em mim.

Eles dizem-me no seu despertar:

"Tu e o mundo em que vives não passais de um grão de areia

sobre a margem infinita de um mar infinito."

E no meu sonho eu respondo-lhes: "Eu sou o mar infinito,
e todos os mundos não passam de grãos de areia
sobre a minha margem."


Só uma vez fiquei mudo.
Foi quando um homem me perguntou:


"Quem és tu?"



Kahlil Gibran