segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Sobre a paixão



"Se você está apaixonada por mim
Nunca diga nunca
Não me fale assim
O amor é uma cachaça
É uma ameaça e coisa e tal
Paixão é terremoto, tsunami
É vendaval
Se você está apaixonada por mim
Nunca se apavore
Vá até o fim
O medo é o pior dos ancestrais
É hora de reler Vinícius de Moraes
Se você está apaixonada por mim
Nunca nos assuste
Tudo pode acontecer
Se você está apaixonada por mim
Tomara que eu (ainda) esteja apaixonado por você"

Jean Garfunkel


Tô no meio do vendaval. 24horas com energia que não se esgota nem dançando um cd inteiro de mp3, avuada, desfocada. Apaixonada. A vida tava gostosinha, com suas turbulências, mas quentinha, enfim. Veio esse susto e me tirou o controle, o conforto. Me deu suspiro, me deu energia, me deu êxtase... Me deu aconchego de que ainda existe um sentimento quase puro dentro de mim, ainda é possível viver algo que eu vivi com 14 anos, algo de que eu não me lembrava mais, que eu dizia a todo mundo que não existia mais.
Aparece você. Leve e tão confuso. Puro e tão cheio de malícia. Sensível e tão masculinamente racional. Apareceu você.
Tenho aprendido a exercitar a entrega, vulnerável, peito aberto. Primeiro pros momentos em que estamos em contato. Mas principalmente, e o mais difícil, pro desconhecido. Hoje eu entendo, hoje não quero ganhar mais, nem quero competir.
Tenho medo mas me sito valente pra superar meu orgulho. Estou confusa mas lúcida pra entender cada defesa e deslizar entre elas. Mas por causa de todas as frustrações e dores já vividas, posso estar mais a vontade com você e comigo.
Nós não temos absolutamente nada além de alguns momentos e algumas poucas palavras que talvez voem com o vendaval logo mais. E por isso é fascinante que possamos ter tudo, e um pouco assustador que isso possa inexistir a qualquer momento.

Estou embriagada, pouco sono e muitos sonhos. Uma menina que quer colocar vestido e sair de mãos dadas, quer ficar na ponta dos pés de novo e te dar mais um beijo. Quem sabe se você a levantar como fez aquele dia, e ela ficar suspensa abraçada em você?
Uma menininha que quer comer doce e brincar com seus cachorros. Só.

Mas a vida é irônica, de nada isso vale. Ela é muito sábia, meu tempo e meus desejos não têm a menor importância. Ela me diz pra aprender com o silêncio, não perder o silêncio anterior ao vendaval. Ela me diz pra aprender com os espaços, a não sofrer com eles.
Depois do vendaval ainda vai existir você, menina. Além do vendaval só existe você, menina.
Paixão é soluço.

Tudo o que eu queria agora é que você não tivesse medo do que não vê e não sabe.
E que eu não tivesse medo de tantas certezas que meu coração me diz...


“Um corpo estranho é introduzido na concha. Esta se protege contra o mesmo e, no decorrer do tempo, o envolve com uma camada de pérola.
O elemento perturbador transforma-se em beleza.”
Herrigel

domingo, 19 de outubro de 2008

Uma letra pra mim, um texto pra ele


"Por tanto amor

Por tanta emoção
A vida me fez assim
Doce ou atroz
Manso ou feroz
Eu caçador de mim

Preso a canções
Entregue a paixões
Que nunca tiveram fim
Vou me encontrar
Longe do meu lugar
Eu, caçador de mim

Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura

Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim"

Milton Nascimento





P.S: Sem mais, dedico ao moço com nome de anjo por quem me apaixonei essa noite. Registro esse susto com um desejo de capturar, sem prender, pirilampos que se apagaram, borboletas que voaram enquanto ainda tenho comigo as sensações.

Oito horas de tudo de leve, surpreendente, eufórico, apaixonante e simples. Sentia falta de uma inocência maliciosa, mãos e abraços bem apertados, assim, sem grandes pretensões e máscaras. Doces momentos bem vividos. Doces como todos os doces de que você gosta, sweet sweet guy.


See you on any monday...


sábado, 11 de outubro de 2008

Ensaio sobre a visão


"Deixai-me limpo
O ar dos quartos
E liso
O branco das paredes
Deixai-me com as coisas
Fundadas no silêncio"

Sophia de Mello Breyner Andresen



Óculos. Primeiro (como sempre) relutei muito, meus olhos entre quadro paredes! Depois de um tempinho percebi que isso não era nada, a maior prisão está no meu olhar...
Cansaço pra enxergar bem de perto, a visão enxerga muito bem, mas não vê claro de perto. Segundo o oculista, a visão é o sentido que mais exige do cérebro. Segundo a acupuntura, a visão corresponde ao fígado (relacionado entre outras coisas com a emoção raiva). Segundo alguns bons, não estou percebendo muita coisa que está na minha cara, falta foco.
Minha mente me deixa com vertigem, minha raiva, tão domadinha, está como uma cobra deslizando dentro de mim aqui e ali. Não agüento mais pensar.
Pra isso tenho fechado mais os olhos, mas a maioria das vezes não adianta porque saio da realidade, é bom, mas paliativo. Na meditação, ajuda um pouco mais... mas de olhos abertos.
Vejo de longe o passado e tenho um certo ressentimento de não ter feito mais, bem mais do que fiz por conta de algumas precauções. É bom olhar assim de longe, pois se aproximar um pouco, a lente turva e eu caio pra um certo niilismo e culpa. Olhar o futuro já me leva ao hedonismo, possibilidade de mil loucuras, sem muito limite, do jeitinho que meu idealismo gosta.
De todos esses focos, só há um: AGORA. Agora é realidade, maybe sad but true. Daqui pra trás estão os passos dados, os tropeços, as alegrias, pra chegar aqui. Daqui pra frente, acertar a lente pode ser um ótimo começo pro inesperado, como um bom trekking. Agora é o real, cru, limite. Agora é sem dramas, simples, claro, como uma parede branca. Muito mais livre que qualquer passado ou futuro, ao contrário do que meus olhos estavam enxergando.

Ouço de alguém que é bom ir a fundo na dor, que a partir disso a gente se conhece melhor e é como um poder que ninguém te tira mais. Não um poder de orgulho , mas de vida humana. Passei boa parte da vida indo fundo na dor, não seria difícil fazer isso mais algumas vezes. Se me conheço melhor? Não sei. Sei que talvez tenha cultivado um vício maldito de ir até o limite. E de limite em limite, algumas cicatrizes em mim e nos outros e outras vezes algumas superações. Sim me sinto mais forte, mas hoje não é isso que valorizo, pra minha própria decepção...

Hoje, agora, aqui, de cabelos molhados, com um sorriso quase sereno e pouca roupa, quero paz.
Como disse essa mesma pessoa, não quero mais me machucar. Sentada aqui, com o corpo e a idade de hoje, sentindo por causa de um óculos o tempo passar, quero tranquilidade e as coisas mais banais e simples, e as mais difíceis de assumir. Quero ser amada sim, quero amar mais ainda, quero respirar e ser respiração. Quero tatear, canto por canto como no baile de ontem cheio de casais dançando. Tatear, sentir o cheiro, sentir o gosto. E quero ser tateada, fresta a fresta, até que não me reste um tipo de medo e orgulho sequer.

Estou cansada de ver, porque vejo demais, minha visão extraordinária me cansa. Não suporto mais ver a fraqueza dos outros e a minha própria com requintes de detalhes. Não suporto mais ver o melhor nas pessoas e tentar explicá-lo falando pro vazio. Quero cuidar da minha vida.

Assistam "Ensaio sobre a Cegueira". O livro já é belo porque Saramago tem beleza anyway. O filme é uma boa visão, aquilo que podemos ou não nos tornar numa cegueira branca. Mas a mais bela visão são as mulheres, incrível, nem Mark Ruffalo nem Gael conseguiram tirar minha atenção das mulheres. Aquela cena meio idílica talvez seja uma das boas utilidades de um par de olhos, ver a capacidade de amor, compaixão, sutileza existente no feminino. Mulheres despidas cuidando uma da outra, tive uma sensação forte e feliz do ser mulher.
A cena onde a mulher do médico flagra o sexo e numa cumplicidade surpreendente diz pra garota: "Eu vejo" e a abraça, é alguma coisa. Me identifiquei aqui e ali, eu fui capaz de algo parecido alguma vez, talvez da pior vez e essas são algumas das boas coisas de se olhar pra um filme e as vezes, pra trás...

De qualquer forma, com tantas palavras, o melhor está no silêncio. De tantas coisas, fico com o lençol branco. De tantas pessoas, o melhor está nos espaços entre nós. São esses espaços, vãos, vazios, que vão fazer a gente se encontrar pela vida, um dia.


P.S: Ah, olha que ironia, os óculos não foram mais necessários e descansam na gaveta, foi diagnosticado estresse temporário, depois que passou a visão voltou ao normal! (mas de vez em qdo eu brinco com os óculos, porque acho charmoso usar ;-)
Dedico as excelentes companhias que são gente, filmes, pernas, flores e gatos... (não necessariamente nessa ordem)

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

quando ele chegar


quero dopar meu ego
blefar com minha mente
atiçar meus sentidos

quando ele chegar

quero estar em carne viva
sem saída
sem argumentos

quando ele chegar

quero desejar menos
me dissolver
me diluir

quando ele chegar

quero ser cinza após fogo
ar após água
poeira após terra

quando ele chegar

quero desesperadamente
não ter
não pretender

quando ele chegar...