domingo, 27 de abril de 2008

Dolls

Dolls, filme japonês dirigido por Takeshi Kitano.
Assisti numa sessão mensal que acontece numa livraria, sob a mediação de Roberto Otsu. Tento reproduzir algumas idéias debatidas.

O filme é muito simbólico e sutil, talvez por isso muito forte, com cenas belíssimas em cores e fotografia. Ele trata de 03 histórias de amor, sendo a primeira a central.
Muitos tiveram a impressão do filme tratar de destino, e na verdade a força invisível que leva todos os personagens é a do mito. Ser o mito, viver em função do mito é o que determina o enredo dessas relações, não a toa o filme começa e termina com um teatro de bonecos no estilo Bunraku.
O mito é o amor romântico, que continua firme e fortemente alimentado há tempos no nosso inconsciente. A paixão com suas idealizações exageradas, projeções cegas, que nos arrebatam e podem nos arrastar para abismos.

Na primeira história, a garota que perde o amado com quem ia se casar. Ele parecia preencher todas as lacunas existenciais daquela garota, e ao abandoná-la faz com que ela se perca a ponto de tentar suicídio. Perder seu sonho cor de rosa, seu brinquedo, ser uma borboleta sem asa faz com que ela sobreviva numa apatia vegetativa. E ele, com toda culpa, segue ligado a ela numa existência dolorida, sem direção, literalmente penando entre as estações do ano e os lugares que marcaram aquele relacionamento.

Na segunda, a mulher que para no tempo após o abandono. Sai todo dia de casa, usando a mesma roupa para esperar pelo seu amor. Nesse mundo de fantasia sua motivação continua firme e com sentido, mas quando aparece alguém de carne e osso, não é possível pra ela viver a realidade da paixão.

Na terceira, a popstar que tem em seu maior fã um apaixonado. Ela sofre um acidente que desfigura parte do seu rosto e se isola do mundo. Para lidar com isso e chegar até ela, ele se cega. Aqui fica muito clara a questão do mito, ele só existe na idealização, a partir do momento que conhecemos suas nunaces humanas e reais ele não consegue sobreviver. Por isso ela não teve saída senão se isolar para permanecer no imaginário coletivo, e ele não tinha outra forma de viver essa paixão se não se cegasse para ela. Não a vendo como humana, desfigurada, e sim como a última imagem de um livro.

Quanto mais nos distanciamos da nossa essência, do nosso eu mais profundo ou como quer que se chame, mais certo que atrairemos opostos complementares e paixões avassaladoras. É como se nossa psique fizesse sempre uma compensação: quando há muita racionalidade e pouca emoção, normalmente nos atraimos por pessoas muito emotivas e vice-versa, para que a energia seja compensada de alguma forma. Na falta de consciência ela nos leva como um turbilhão, aí somos arrastados pelas paixões. Quanto mais básica for a energia de uma pessoa mais ela se atrairá pelo superficial, quanto mais ela se elevar, mais se atrairá pela profundidade. Roberto citou esse mito que achei bem interessante:

"Na mitologia grega, Páris era um dos mais novos filhos do rei Príamo, de Tróia. Foi escolhido pelas deusas Hera, Atena e Afrodite para eleger qual delas era a mais bela. Cada deusa, buscando suborná-lo para ser eleita, prometeu-lhe riquezas e vitórias, mas Afrodite lhe garantiu que se casaria com a mulher mais bela do mundo, a princesa Helena de Esparta. Páris elegeu Afrodite como a mais bela das três, despertando a ira de Atena e Hera, que enviaram os exércitos gregos para destruir Tróia. Conhecido como um príncipe covarde e volúvel, Páris acha que os únicos prazeres que deveria dar valor eram os da carne. Somente após uma visão atribuida a Apolo, Páris resolveu batalhar na guerra de Tróia."

Aplicando esse mito na dinâmica das relações é interessante observar que nossas escolhas são em sua maioria conduzidas nem tanto pela idade cronológica, mas pela maturidade resultante de experiências de vida. Então não há como querer que alguém cuja visão de vida ainda tenda para o básico, superficial, valorize a sabedoria. Entender isso talvez nos faça lidar melhor com as frustrações e idealizações.
A paixão deve ser vivida, ela é uma energia importante e vital, mas é possivel que com consciência vivamos esse sentimento de uma forma que não nos domine e nem por isso, menos intensa. Quanto mais autoconhecimento tivermos, menos seremos levados pelos encantos idealizados e projetados, pela necessidade de se completar através do outro. E dessa forma podemos transmutar para o amor, esse sim, sentimento que vivido com consciência é libertador e permite estalabelecer relações profundas.
No final das contas, chegamos a conclusão que, ou matamos o mito ou morreremos por ele.

P.S: Todos os créditos das idéias para o Roberto e o grupo, eu fui praticamente uma ouvinte.
P.S2: Todos os créditos de um dia feliz as pessoas que por coincidência encontrei por lá

quarta-feira, 23 de abril de 2008

O amor e as curvas



"O AMOR que eu te tenho é um afeto tão novo
Que não deveria se chamar AMOR
De tão irreconhecível, tão desconhecido
Que não deveria se chamar AMOR

Poderia se chamar NUVEM
Pois muda de formato a cada instante
Poderia se chamar TEMPO
Porque parece um filme a que nunca assisti antes

Poderia se chamar LA-BI-RIN-TO
Pois sinto que não conseguirei escapulir
Poderia se chamar A U R OR A
Porque vejo um novo dia que está por vir

Poderia se chamar ABISMO
Pois é certo que ele não tem fim
Poderia se chamar HORIZONTE
Que parece linha reta mas sei que não é assim

Poderia se chamar PRIMEIRO BEIJO
Porque não lembro mais do meu passado
Poderia se chamar ÚLTIMO ADEUS
Que meu antigo futuro foi abandonado

Poderia se chamar UNIVERSO
Porque sei que não o conhecerei por inteiro
Poderia se chamar PALAVRA LOUCA
Que na verdade quer dizer: aventureiro

Poderia se chamar SILÊNCIO
Porque minha dor é calada e meu desejo é mudo
E poderia simplesmente não se chamar
Para não significar nada e dar sentido a tudo"

NÃO DEVERIA SE CHAMAR AMOR - MOSKA


Anseio para ser pega na curva. Que me peguem nos momentos em que não sou eu, que me conduzam, mostrem outras direções, me desmascarem, me tirem de cena. Me olhe esse olho que me vê, que vê esses lampejos em mim e me chacoalhe, me arrebate, me cause o caos. Depois me ponha no colo, me sinta e não me diga nada, mas fale comigo.
Mal espero para ser pega na curva, que seja revelado esse ladrão de mim mesma.
Antes, silencio. Ando em busca dessa que nasce e nem sei exatamente quem está morrendo. Tudo é intenso, ando boba, lunática, rindo a toa. Tudo incerto, fascinante.

Não consigo explicar,
sinto amor pulsando aqui dentro.

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Noite mágica


Era pra ela ter ido a um lugar, acabou em outro. Não confia mais nas próprias vontades, há um espaço imenso que reserva coisas impressionantes. Que limitação esse "eu quero de 2x2"!
Não conhecia ninguém além do aniversariante. Chovia muito, lugar estranho, gente esquisita, mas afinal, o aniversariante é um cara muito querido. Passando os olhos por entre as pessoas, ele, de camiseta listrada e sorriso absurdamente magnético. Como um imã, lá estava ela a seu lado. Seu olhar conseguia ser tão magnético quanto o sorriso, então, pra que resistir? Ele a lia como se estivesse nua. Ele realmente estava a vontade, e quanto mais ela tentava desencorajá-lo, mais ele seguia em frente e sorria... Ah, e como sorria... Que armadilha traiçoeira aquele sorriso acompanhado daqueles olhos...
A conversa parecia mística demais, elogios demais, empolgação demais. Mas não era over, ele parecia saber que ela ia chegar e mais, esperava por ela. Ela nunca tinha visto esse cara, ele viajava o mundo. Conversaram sobre muitos países, sobre o desapego, sobre energias, sobre mulheres e homens. Entre um pedaço de bolo e outro, no meio da festa, um beijo. Um beijo absurdamente bom, encaixado, daqueles que colam. Ela nunca faria isso em lugar nenhum, se expor daquele jeito. Em dois segundos era como se estivessem a sós. Ele disse: "Você percebe que ninguém nota a gente? A gente está em outra dimensão. Desde o começo não pertencíamos a essa festa, ela foi só uma desculpa pra gente se encontrar."
Tudo era muito louco, tudo fazia sentido. Não era pra ela estar ali, ela nem sabia dessa festa.
Enfim, ficaram juntos uma eternidade. As luzes apagaram, os convidados foram embora, parecia que eles assistiam isso tudo de uma parede de vidro. O corpo dele, macio e forte, as mãos firmes. O olhar, o sorriso, um sorriso inteiro. Esse homem era inteiro.
Faíscas para todo lugar. Ela não conseguia ir, ele não conseguia.

Hoje ele esperou por ela.
Por favor, não se apaixone por mim.

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Ligeiramente grávidos

Assisti esse filme que a principio não me atraía, mas tanta gente falou que era bacana que eu apostei.
E é bacana. Ele consegue abordar um tema super delicado de forma bem leve e original, alternando o escrachado com diálogos inteligentes. É um filme ótimo pra repensarmos as relações e mais, nos inspirarmos na leveza do deixar fluir e ser autêntico (mais uma vez).
É a história de um garoto e uma garota que se conhecem na balada e bêbados, transam. Dois meses depois ela descobre estar grávida e só poderia ser daquele sujeito desastrado, nada a ver, com quem ela dormiu alcoolizada. Mas isso muda e de uma forma bem legal, mais próxima do real do que de idealizações e é por isso que gostei tanto do filme.Os dois realmente se abrem para as possibilidades decorrentes do imprevisto e por serem tão autênticos tudo se encaminha de modo muito leve, sem joguinhos bobos, mesmos nos momentos mais críticos.
Em paralelo há a história da irmã da personagem principal que é casada e desconfia que o marido a está traindo. Entrar nessa história é uma forma bem bacana de perceber onde nos equivocamos na maioria das vezes, principalmente quando nos sentimos muito mais sós na companhia do parceiro. Ele fala uma frase que eu gostei muito, mais ou menos isso: " Casamento é como Everybody loves Raimond mas sem graça, onde todos estão putos e tensos. E o pior é que não dura 22 minutos, dura a vida inteira."

Pra mim a moral da história é a seguinte: a gente erra mais quando não se mostra. Quando se esconde em orgulho, competição, ou qualquer outro sentimento que abafe o que realmente queremos dizer e viver. Tudo é muito mais gostoso, mais feliz quando conseguimos nos abrir ao que se apresenta de uma forma que não nos perdemos de nós mesmos. Não importava se ela era linda e bem sucedida, nem pra ela e nem pra ele. Não importava mais se ele era um maconheiro desocupado. A abertura fez aflorar tudo de melhor que eles poderiam dar diante da situação não planejada.
A cena em que ele dá uma caixinha vazia de presente é linda! Não é o máximo dar de presente possibilidades ao invés de se matar pra comprar o que pensamos que vai agradar ou cumprir um protocolo?
Boa metáfora: se oferecer ao outro vazio, cheio de espaço. Se oferecer assim para seu homem ou sua mulher e deixar o resto por conta das estrelas no meio do caminho...

domingo, 13 de abril de 2008

Try a little tenderness

"Oh, she maybe weary
And young girls do get weary
Wearing that same old shabby dress, yeah
But when she gets weary
Try a little tenderness

You know she's waiting, just anticipating
For things that she may never, never, never possess
But while she's there waiting without them
Try a little tenderness
(That's all you gotta do)

It's not just sentimental, no, no, no...
She has her grief and care, yeah
But the soft words
They all spoke so gently, yeah
It make it easier, easier to bear

You won't regret it, no, no, no....
Young girls they don't forget it
Love is their hole happiness, yeah
But it's all so easy
All you've gotta do is try

Try a little tenderness
All you've gotta
Do it man
Hold on the way you wanna

Squeeze her
Don't tease her
Never leave her
You've gotta try to find a little tenderness
(Nobody love her, man)"

Harry Woods, Jimmy Campbell, Reg Conelly
(Minhas interpretações preferidas são de Nina Simone e Cássia Eller)

Desculpe não traduzir, mas essa música é muito viva assim originalmente, se tiverem oportunidade ouçam bem alto.
Meninos, dedico a vocês que gostam de Mulheres, arriscam, entram em seus mundos e seus abismos. Esse é um bom começo, try a little tenderness guys ;-)

No youtube meu vídeo predileto dessa música foi com o Otis Reddings, o estilo anos sessenta, lembra essa coisa naif que a música tem e que, ah...



P.S: Dedico ao casal que hoje faz 50 anos de casado em uma celebração num monastério perto de São Paulo. Não os conheci, nem sei seus nomes, mas tive o privilégio de fazer parte desse momento com muitas flores amarelas, espalhadas pelo salão.

domingo, 6 de abril de 2008

Mudança de perspectiva




Não estou vazia
Estou cheia de espaço


Mudanças, novos ares, sonhos, delírios e muita realidade.
Aqui não poderia ser diferente, um novo layout em teste, tudo pode mudar a qualquer momento.

P.S: Dedico ao Gustavo, por ter me apresentado a Taketina.
Dedico ao Roberto Otsu, pelas idéias que chacoalharam e clarearam muita coisa aqui dentro.
Dedico a Maria Cândida, que foi fada madrinha. Irmãzona.
Dedico a Fabi, sempre parceira e botando a maior fé. Muito querida.