quarta-feira, 9 de julho de 2014

Sobre a escuta (ou o que aprendo escutando)


                                                                     Foto: Alessandra Marcuzzi

"Como ouvintes, não precisamos de insights sobre dinâmica psicológica ou treinamento em psicoterapia. O que é essencial é nossa capacidade de estarmos presentes em relação ao que realmente está acontecendo dentro da outra pessoa - em relação aos sentimentos únicos que uma pessoa está vivendo naquele mesmo instante." Marshall Rosemberg


O que é a escuta? Além do ato de escutar?

A escuta é como um abraço silencioso, onde é ofecerida uma presença. Ela é firme, a respiração mansa, como se tivesse todo o tempo do mundo... E quando a praticamos sentimos essa verdade: temos todo o tempo do mundo, somos donos do nosso tempo.
A presença firme vem de uma vivacidade de simplesmente estar ali. Temos energia, a postura é ereta, os olhos abertos, sem bocejos...
Numa real necessidade de comentar o que está se escutando, a fala vem de um lugar de abertura e atenção e é naturalmente mais assertiva e objetiva sem por isso ser fria ou sem emoção.
Ela pode sugerir, mas não interfere nem corta.
Os impulsos de interferência, como aconselhar, contar uma experiência própria, adiantar um pensamento do outro acontecem quando estamos em nossos próprios filmes de passado ou de futuro sobre o que está sendo dito.

O processo da escuta dispensa preparos, receitas. Ele é simples e sutil.


A escuta genuína nos coloca no momento presente, e consequentemente, na realidade do que está sendo expressado. Dessa forma, muitas vezes pode parecer impessoal, pois crua, no sentido de nenhum artifício.
Porém, poucas coisas são mais íntimas do que escutar profundamente. E a escuta é imensa, ela abrange ouvir a nós mesmos, ouvir nosso corpo, ouvir o outro, ouvir seu corpo. Ouvir inteiro, tudo. 
E 'as vezes confundimos escutar com elocubrações, suposições, quando não confundimos nossas próprias emoções com julgamentos, manipulações.
Ouvir um outro é possível quando nos habituamos a nos ouvir. Assim conhecemos nossas necessidades mais a fundo, e passamos a discernir entre elas e uma emoção. E o que a emoção nos traz de notícias, não para  nos perdermos em pensamentos, para que a partir da nossa própria compreensão conosco, a habilidade de compreender uma outra pessoa de maneira integral floresça.

Havendo disponibilidade interna e interesse autêntico pelo ser que compartilha, a conexão acontece naturalmente. Pois naquele instante o que é escutado não são as palavras, é a expressão de um universo inteiro. E então a empatia acontece e cuida do fluxo, de forma leve independentemente do conteúdo ou formato da fala. 


Entre a escuta, a fala e a ação existe um campo imenso. 
É lá que muitas possibilidades nos convidam para dançar. 
E onde boas sementes se tornam perfume acessível 'a todos.