Dois mil e doze, gosto da pronúncia.
2012 um ano que, como brinco com alguns amigos, foi como passar por uma máquina de tirar cascas, uma centrífuga, um moedor de carne ou qualquer coisa do gênero. O que diferencia 2012 de um 2010 ou 2011, é que nos anteriores a falta de consciência de algumas coisas foram a razão para que fosse tão mais difícil, mesmo com tantas coisas a favor.
Mas 2012 não, ele foi a favor com tantas coisas fortes e profundas. Como aquela etapa final de um jogo, como aquela semana final de uma novela, como aqueles 30 minutos finais de um filme de aventura, que só fazem sentido mesmo para quem passou pelas fases anteriores ou acompanhou o enredo todo. 2012 talvez tenha sido o primeiro ano em que eu consegui olhar de uma perspectiva maior para os fatos: a perspectiva de uma jornada de vida. E tudo que era dolorido ficou comovente pois poder olhar para sua própria jornada após percorrer cada caminho, degrau, fase, ou o que seja, passando pelo que é necessário, dá uma sensação de dignidade. E isso desperta uma gratidão profunda.
2012 me desafiou mais intensamente por dentro. Não deu muita sopa para as minhas boabagens, nem tempo para dramas. É a máquina de tirar cascas, uma centrífuga que parece que te processa para dar suco. Em alguns momentos achei que não suportaria, como aquela trilha incrível mas muito íngreme e longa que fiz no Chile uma vez, e que, chegando ao final quando pensava que era só curtir a vista tão esperada, tinha mais uma montanha de pedra para escalar. E eu escalava exausta achando que não iria conseguir, já conseguindo, e uma galerinha que já tava no topo incentivava "Vem que você consegue". E você consegue, mas a sua maneira, a seu custo.
2012 foi assim, como a trilha de Torres del Paine: o caminho mais profundo é solitário porque depende única e exclusivamente da sua resistência, persistência, paciência, resiliência e principalmente: consciência. Mas não é de forma alguma sozinho, como o final do Big Fish, de Tim Burton: tem muita gente te incentivando, torcendo e inspirando a seguir e também os que comemoram contigo a tua morte.
2012 não foi um 2011, onde eu estava radiante socialmente, atendendo naturalmente 'as demandas sociais de forma mais frequente. 2012 eu tava radiante socialmente mas era em capítulos especiais, depois de ficar mais quietinha, respeitando o espaço de contração e expansão.
2012 eu passei por situações muito desafiadoras que muita gente que nem imagina até hoje. Porque em 2012 eu consegui guardar para mim e processar as maiores dores e também as grandes alegrias, sem aquela necessidade de 2008 por exemplo, de sair pedindo conselhos ou compartilhando as delícias ao mundo.
2012 foi para poucos, mesmo estando cada vez mais para todos.
Um ou outro amigo ficou pra trás, sem culpa, na paz, como aquele vento que leva e você entende que é momento de ir pra outro lugar. Conheci muitas pessoas novas, alguns resgates de amizades antigas muito felizes e outros que ficaram por perto mais constantemente. 2012 me ensinou a idealizar menos as amizades, me trouxe um frescor de apreciá-las como são mesmo em momentos de indignação e tristeza ou alegria e euforia. 2012 me deu muita saudade de muita gente que vi muito pouco e quero ver mais. 2012 revalidou (mais e mais) a importância da amizade na minha vida, ou melhor, das relações positivas: tesouro cada vez mais precioso que levo comigo mas cada vez menos da forma como idealizava e me idealizavam. Em 2012 eu tive mais ternura com a idealização dos outros em relação a mim, e menos paciência com a minha em relação a mim mesma, o que ajudou um bocado.
2012 ficou clara a epópeia com todos os seus capítulos, bonito de ver. E mais um mundo acabou, tão belo como Melancholia do Lars Von Trier.
Hoje, ainda em 2012 eu compreendo que 2012 não foi um ano. Foi uma vida.
E que venha 2013, com o que quer
que seja.